O medo da exposição ao novo coronavírus diminuiu a movimentação de doadores de sangue em hemocentros do país, prejudicando os estoques de seus bancos de sangue. Geralmente, quando isso acontece, a estratégia é usar a mídia, na tentativa de fazer chamamentos para que as pessoas colaborem, indo aos hemocentros regionais para ajudá-los na tarefa de manter seus estoques.

O problema é que entre as medidas para prevenir a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, está evitar ambientes com aglomerações. Diante desse dilema, os hemocentros têm pedido que as doações de sangue sejam agendadas.

Para garantir que os doadores não correrão riscos de adquirirem a doença, alguns hemocentros adotaram algumas medidas preventivas. Entre elas a readequação do espaço, garantindo maior distância entre as pessoas.

Brasília

O hemocentro de Brasília, por exemplo, registrou desde a semana passada uma queda de cerca de 25% em seu estoque estratégico. A diminuição é perceptível não só nas doações espontâneas, como também nas doações em grupo. “A suspensão das atividades escolares impactou o fluxo de doadores, pois grupos de estudantes de nível médio e universitário organizam doações regularmente, e esses grupos cancelaram o agendamento”, disse à Agência Brasil o diretor executivo da Fundação Hemocentro de Brasília, Alexandre Nonino.

Medo de Covid-19 afasta doadores

Com relação ao movimento de doadores entre 12 e 16 de março, Nonino explica que houve uma queda de cerca de 30% nas doações de sangue em comparação com o mesmo período de 2019. Segundo ele, o cenário de redução dos estoques é o panorama dos hemocentros brasileiros. “Alguns em situação mais crítica, como São Paulo e Rio de Janeiro”, acrescentou.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, até a semana passada, o Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio) manteve um nível de doação dentro do normal. A partir da última segunda-feira (16), porém, houve queda de 50% a 60% do serviço no Hemorio e nos demais serviços da rede. Em todo o estado, que conta com outros institutos de doação de sangue, a queda foi de aproximadamente 80% no total de bolsas coletadas.

São Paulo

Um dos cinco maiores bancos de sangue da América Latina, a Fundação Pró-Sangue, localizada em São Paulo, informou que a situação estava ruim desde o fim do ano passado, e foi piorando na medida em que as notícias da chegada do Covid-19 no Brasil.

“Estava ruim no final do ano passado, continuou ruim no carnaval e depois piorou com a explosão do novo coronavírus, que fez o movimento cair ainda mais. Na semana passada tivemos, inclusive, de pedir ajuda a outros bancos de sangue porque nosso estoque estava baixo”, disse à Agência Brasil a hematologista responsável pela divisão de medicina transfusional da Pró-Sangue, Sandra Camargo Montebello.

No início desta semana a situação melhorou, com a população atendendo a chamada que a fundação fez com a ajuda da mídia local. “Mas isso acabou nos gerando uma outra preocupação: a de evitar aglomerações”, acrescentou.

Agendamento, adequação, limpeza e desinfecção

Apesar de o número de doadores ter aumentado, a hematologista do Pró-Sangue faz um apelo: “A gente sempre precisa do doador, e estamos com muito medo que eles sumam conforme o aumento da doença”. Para evitar aglomerações, ela pede que os doadores agendem a ida aos hemocentros, por meio do Alô Pró-Sangue, no telefone (11) 4573 7800. Pedido similar faz o hemocentro de Brasília. “Agendem pelo telefone 160, opção 2, para evitar aglomerações”, pediu o diretor.

Segundo ele, o hemocentro da capital federal aumentou o espaço entre as cadeiras da sala de espera, para evitar maior proximidade entre os doadores. “Reforçamos também as rotinas de limpeza e desinfecção das áreas comuns”. Para lidar com situações de baixo estoque de sangue, o hemocentro de Brasília costuma adotar um plano de contingência que, devido à queda no número de doadores por conta do medo do novo coronavírus, tem sido reforçado nas últimas semanas.

“Uma das medidas é a de convocar doadores e líderes de grupos de doadores para auxiliar na reposição dos estoques, assim como intensificar orientações sobre uso racional de sangue nas unidades de saúde”,explica o diretor Nonino.

Outro banco de sangue que tem sentido os efeitos da Covid-19 em sua rotina é o do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC Oncologia). “Recebemos 15 doadores nesta segunda-feira (16), enquanto a média é acima de 30”, informou a coordenadora do banco de sangue, Juliana Lima. “No hospital, registramos queda de 50% no número de doadores, neste início de semana”, acrescentou. A fim de amenizar a situação, o IBCC Oncologia colocou à disposição dos doadores o número de telefone (11) 3474-4280, para agendamento da doação.

Doar sangue não representa risco

Presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), e também coordenador médico do Banco de Sangue do IBCC Oncologia, Dante Langhi reforça a importância de esclarecer mitos sobre a doação de sangue neste período. “Doar sangue não representa nenhum risco de contrair Covid-19. Caso você esteja prestes a tomar alguma vacina, como da gripe ou outra, primeiro doe sangue”, disse.

A Agência Brasil contatou o Ministério da Saúde, na tentativa de obter informações sobre as mudanças que o novo coronavírus causou nos procedimentos, protocolos e rotinas dos hemocentros do país. No entanto, até a publicação da matéria, a demanda não foi atendida.