04/10/2018 - 14:57
Mais novo diretor criativo da Céline, Hedi Slimane vê traços de puritanismo, conservadorismo e até homofobia nos ataques que vem recebendo na mídia e nas redes sociais desde que assumiu a direção criativa da Céline. Na temporada de Paris, eles foram intensificados depois de seu desfile de estreia em que propôs uma guinada de 180º no estilo da marca.
Na noite desta quarta-feira, 3, ele se pronunciou (por e-mail) no programa de TV francês 5 Minutes de Mode by Loïc Prigent, exibido pelo canal TMC. “É sempre muito chocante e sempre sinto como se estivessem falando de outra pessoa”, declarou, sobre as várias críticas que recebeu (uma delas, no Hollywood Reporter, chegou ao exagero de questionar se ele seria o Donald Trump da moda).
“O espírito do desfile era leve e alegre, mas leveza e despreocupação têm sido questionadas hoje em dia. Já passei por isso na Saint Laurent”, escreveu, colocando a maneira como vem enxergando essa onda de ataques. “Estamos lidando com política, conflitos de interesse e panelinhas, uma atitude previsível, mas também com exageros desconcertantes de conservadorismo e puritanismo”, defende o francês.
“A violência é um reflexo dos nossos tempos – o espírito de turba inflamada das redes sociais, apesar do fato de ser uma formidável ferramenta de comunidade. Não há limites, o ódio é amplificado e ele assume o controle”, prossegue.
Ele vê ainda excesso de escândalo na maneira como a crítica anglo-saxã se posicionou em relação aos seus vestidos curtinhos de noite. “Significa que as mulheres não são mais livres para vestir minissaias se quiserem?”, questiona.
Para ele, comentaristas norte-americanos foram especialmente sensíveis ao fato de ele substituir uma estilista mulher (Phoebe Philo). “Para alguns, na América, ainda tem o mau gosto de ser um homem substituindo uma mulher. Você poderia ler um subtexto de homofobia latente que é bastante surpreendente. Um homem desenhar uma coleção para mulheres é uma questão?”, pergunta ele.
Na história da moda, não são poucos os casos semelhantes, como Christian Dior e Yves Saint Laurent, passando por Gianni Versace e Azzedine Alaïa, claro, entre mulheres geniais, como Coco Chanel, Jeanne Lanvin, Miuccia Prada e Rei Kawakubo.
“No fim do dia, tudo isso é uma publicidade inesperada para essa coleção. Não esperávamos tanto. Acima de tudo, [esse sentimento] cristaliza uma forma bastante francesa de anticonformismo e liberdade de tom na Céline”, conclui.