A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, teve uma contundente vitória nas eleições de domingo (7), obtendo 75% das cadeiras, e garantiu um quinto mandato à frente do governo, anunciou a Comissão Eleitoral nesta segunda-feira (8).

A Liga Awami, partido de Hasina, “ganhou a eleição”, obtendo uma folgada maioria absoluta com 222 assentos, declarou Moniruzzaman Talukder, secretário-adjunto da Comissão Eleitoral.

O Parlamento é composto por 300 cadeiras, mas muitos dos outros eleitos são de partidos aliados da Liga Awami, o que consolida o poder de Hasina, segundo analistas.

Hasina, de 76 anos, afirmou à imprensa que as eleições foram “livres e justas”.

“Se um partido não participa das eleições, isso não significa que não haja democracia”, assegurou, acrescentando que, “quem quiser criticar, pode fazê-lo”.

Hasina chegou ao poder em 2009. Ela se atribui o mérito de gerar um crescimento impressionante na economia do país, o oitavo mais populoso do mundo com 170 milhões de habitantes, o que permitiu superar a pobreza extrema.

Seu governo é acusado, no entanto, de graves violações de direitos humanos e de exercer uma dura repressão contra a oposição.

Nesse sentido, o Reino Unido e os Estados Unidos criticaram a eleição, enquanto a Índia a defendeu.

“Os Estados Unidos compartilham a opinião com outros observadores de que estas eleições não foram livres nem justas e lamentamos que nem todos os partidos participaram”, disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, em Washington.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu “a todas as partes que rejeitem todas as formas de violência e garantam que os direitos humanos e o estado de Direito sejam respeitados”, segundo sua porta-voz, Florencia Soto Nino.

– “Farsa” –

A votação foi boicotada pelo Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP), principal força da oposição, que denuncia “uma farsa”, e por outros partidos, dizimados nos últimos meses por uma onda maciça de detenções.

Os primeiros indícios sugerem uma baixa participação, em torno de 41,8%.

Representantes da China, Rússia e Índia foram os primeiros a felicitar Hasina, após visitá-la em sua residência nesta segunda-feira e elogiar sua “vitória absoluta” nas eleições, informou o gabinete da primeira-ministra em um comunicado.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, pediu nesta segunda-feira às autoridades de Bangladesh que reforcem “os alicerces da democracia”.

“Imploro ao governo que tome as medidas necessárias para garantir que os direitos humanos de todos os bengaleses sejam plenamente levados em consideração e para reforçar os alicerces de uma democracia verdadeiramente inclusiva no país”, disse Türk em um comunicado.

“Nos meses anteriores à votação, milhares de partidários da oposição foram detidos arbitrariamente, ou foram vítimas de intimidações”, lembrou.

Nesta segunda, Moyeen Khan, um importante líder do BNP, chamou as eleições de “falsas” e disse que o governo é “ilegítimo”.

A Liga Awami praticamente não tinha adversários nas circunscrições em que concorria. Não apresentou candidatos em algumas delas, aparentemente para evitar que o Parlamento unicameral seja visto como instrumento de um único partido.

Muitos entrevistados pela AFP disseram que não votaram, porque o resultado era previsível.

Alguns eleitores dizem que foram ameaçados com a apreensão de cartões necessários para obter benefícios sociais, caso se negassem a votar pela Liga Awami.

– Sabotagem –

O BNP e outros partidos se manifestaram sem sucesso durante meses no final de 2023 para exigir a destituição de Hasina e a instauração de um governo interino neutro para supervisionar as eleições.

Na véspera das eleições, a polícia prendeu sete membros da oposição, acusados de sabotagem após um incêndio mortal em um trem. Ao menos quatro vagões do Benapone Express, que une Jessore a Daca, foram incendiados na sexta-feira, deixando ao menos quatro mortos e provocando caos.

Desde o ano passado, a rede ferroviária sofreu vários “atos de sabotagem fatais” segundo a polícia, que culpa o BNP.

O BNP nega qualquer envolvimento e afirma que as autoridades incitam estes atos para depois acusá-lo.

Em 2023, cerca de 25 mil dirigentes da oposição, incluindo todos os representantes locais do BNP, foram presos em uma onda de repressão a uma série de protestos, nos quais várias pessoas morreram em confrontos com a polícia, segundo o partido. Na época, o governo informou 11 mil prisões.

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