Hantavirose: entenda o que é a doença que causou a morte da esposa de Gene Hackman

Casal foi encontrado morto com o cachorro da família, nos Estados Unidos

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Gene Hackman e sua esposa, Betsy Arakawa Foto: Reprodução/Instagram

O Estado do Novo México, nos Estados Unidos, deu novos detalhes sobre as mortes de Gene Hackman e de sua esposa, Betsy Arakawa, nesta semana. Um delEs foi que a pianista morreu no dia 11 de fevereiro por Hantavirose.

A IstoÉ Gente foi atrás de um médico especializado para entender do que se trata a doença. Segundo *Thiago Morbi, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a enfermidade é causada pelo hantavírus, transmitido por roedores silvestres, que pode ser encontrado em países da América Latina, América do Norte, Ásia e Europa – com diferentes graus de gravidade e sintomas.

“Hantavirose é uma doença endêmica na América Latina e também no Brasil. Geralmente, ela está associada a registro desses ratos em ambientes silvestres, como áreas rurais, vegetação muito densa, atividade agrícola, incluindo extração de madeira e até construção civil”, explica ele, enfatizando que no Brasil ainda é considerada uma doença com baixa incidência.

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O que é Hantavirose?

A Hantavirose é uma doença causada pelo hantavírus, que é um microorganismo com diversos subtipos. Todos eles são capazes de causar a condição que desenvolve a doença que aparece no Brasil e em outros países, como uma Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus (SCPH).

O que é síndrome pulmonar por hantavirose?

“Essa síndrome é uma forma grave de Hantavirose, causada pela transmissão de roedores. A infecção provoca a inflamação dos pulmões, edema de pulmão e insuficiência respiratória progressiva, podendo levar a um choque circulatório e falência de órgãos. A evolução pode ser rápida e a taxa de mortalidade também é alta”, explica o médico.

Sintomas em fase inicial:

  • febre alta;
  • dor muscular muito intensa;
  • cefaleia;
  • náusea e vômito;
  • fadiga.

Sintomas em estágio avançado:

  • problemas cardiopulmonares;
  • tosse seca;
  • dificuldade para respira;
  • hipotensão
  • edema pulmonar;
  • insuficiência respiratória grave, que pode levar ao choque.

Morbi enfatiza que essa progressão dos sintomas é rápida. “Então, os pacientes precisam ser internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) o mais breve possível”, alerta.

Tratamento

Segundo o infectologista Thiago Morbi, a Hantavirose não tem um tratamento específico. “É necessário um monitoramento intensivo no hospital, com suporte respiratório por ventilação mecânica e uso de drogas vasoativas”, detalha.

Hantavirose X Leptospirose

Morbi destaca que algumas pessoas podem relacionar a Hantavirose com a Leptospiro, por terem aspectos em comum. Porém, segundo ele, há algumas diferenças.

“A semelhança é que são doenças transmitidas por animais roedores, mas a epidemiologia é diferente. A principal diferença que a gente vê aqui é que o Hantavírus, o agente causador, é um vírus da família Hantaviridae. Já a Leptospirose é causada por uma bactéria, Leptospira. Então, os reservatórios são diferentes”, afirma.

  • A Hantavirose é causada por roedores silvestres, enquanto a Leptospirose, geralmente roedores mais urbanos;
  • enquanto a Leptospirose precisa de um contato direto com a pele, mucosa de água contaminada com a urina dos animais infectados, que pode ocorrer através de enchente, a Hantavirose é por inalação de aerossol. São partículas suspensas no ar que estão presentes na urina, nas fezes e nas salivas desses animais infectados;
  • a Hantavirose evolui para uma síndrome cardiopulmonar e a fase inicial dela pode ser parecida com a da Leptospirose. No entanto, a Leptospirose pode causar conjuntivite e dor nas panturrilhas;
  • e a forma grave da Leptospirose envolve insuficiência renal, hemorragia pulmonar, icterícia e choque séptico;
  • Diferentemente da Hantavirose, que não tem tratamento eficaz, a Leptospirose pode ser revertida com antimicrobianos (compostos químicos que matam ou inibem o crescimento de microrganismos).

O médico desta que, embora a Hantavirose seja mais letal, podendo levar a óbito de 30% a 50% dos casos, a Leptospirose, quando evolui para algo mais grave, tem um aumento de 40% de chances de morte.

Referências Bibliográficas

Thiago Morbi, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e especialista em controle de infecção hospitalar e epidemiologia hospitalar pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC). CRM: 183786.