A queda de Ernesto Araújo depois da fritura no Senado evidenciou a perda de poder do deputado Eduardo Bolsonaro e da ala ideológica. Ocorre que Araújo era mantido no cargo pela força do 02, escorado no fato de ser presidente da Comissão de Relações Exteriores na Câmara. Ao perder esse posto em fevereiro, se enfraqueceu. Mas nunca escondeu o desejo de influir na política externa, usando a vassalagem de Araújo e de Filipe Martins, ambos introduzidos por ele no governo. Eduardo até quis ser embaixador apresentando como credenciais o fato de já ter fritado hambúrguer no Maine. Em razão dessa expertise, se dizia preparado para representar o País nos EUA. Como não conseguiu emplacar esse engodo, usava Araújo para sustentar suas teses obscuras no campo internacional.

Olavetes

O 02 contou com o auxílio do astrólogo Olavo de Carvalho. Foi ele quem indicou Araújo e Filipe a Eduardo. Os três rapazes fizeram o curso olavista para formação de seguidores da direita irracional, propagando suas ideias imbecis do terraplanismo. Sem Araújo, o 02 tentará agora manipular Carlos Alberto Franco França, o novo ministro.

Isolamento

A política desenvolvida pelo grupo articulado por Eduardo levou o Brasil ao isolamento. Após a torcida por Trump, os EUA de Biden querem distância de Bolsonaro. A China ainda está ressentida com os ataques do 02, enquanto os árabes não toleram sua preferência por Israel e a Europa discrimina o Brasil por causa da devastação da Amazônia.

Mais um ligado ao clã Bolsonaro

DIDA SAMPAIO

Para se recuperar do baque que representou a saída de Araújo, o deputado Eduardo tenta manter seus tentáculos nas Relações Exteriores e indicou ao pai o nome de Carlos Alberto França, o novo ministro. França era chefe do cerimonial do Planalto, mas nunca chefiou uma embaixada e, a exemplo do antecessor, não tem experiência com a diplomacia. Goza, porém, da amizade com a família Bolsonaro.

Retrato falado

“O Brasil está precisando de líderes” (Crédito:J.F.Diorio)

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se mostra cada vez mais indignado com a falta de liderança de Bolsonaro diante do caos na saúde e na economia. Em palestra a empresários, disse que precisaremos de um líder para reorganizar o País. Ao analisar o quadro da sucessão, FHC lembrou não gostar da polarização que se desenha entre Lula e Bolsonaro e voltou a insistir numa candidatura de centro. “Precisa surgir alguém que tenha coragem, conhecimento e experiência.”

Desgoverno

Bolsonaro não está provocando apenas o colapso na Saúde. Está desestruturando a economia, o que apavora desde os engravatados da Faria Lima aos desamparados das periferias. Em março, a alta nos preços dos combustíveis acelerou a prévia da inflação oficial, com o IPCA-15 subindo 0,93% — maior número desde 2015, no governo desastrado de Dilma. Assim, a inflação de 12 meses já está em 5,52% em 12 meses, acima do teto fixado pelo BC (5,25% ao ano). Especialistas indicam que a inflação atingirá 8% em junho. Para conter o avanço inflacionário, o BC subiu a Selic em 0,75% em março e deverá repetir a dose em maio. Campos Neto Precisa ter cuidado para não inviabilizar a retomada da economia.

Dólar dispara

O “custo Bolsonaro”, a falta de vacinação em massa e a demora na liberação do auxílio emergencial estão deteriorando tanto as perspectivas da economia que o mercado financeiro está correndo para o dólar, que já está perto dos R$ 6. Apenas este ano, o dólar já subiu 10,58% – o dobro da inflação anual.

Toma lá dá cá

Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde (Crédito:Tadeu Brunelli)

O que o senhor achou do comitê criado pelo presidente e os outros poderes para o combate à Covid?
Já foi feito um comitê interministerial, com participação do Executivo, mas eles não conseguem tocar. Parece mais uma solução política para poder dizer que estão fazendo alguma coisa.

Qual é sua expectativa sobre a gestão de Marcelo Queiroga?
Ele vai ficar entre a ciência e o charlatanismo. Vai ter que optar entre a vacina e a cloroquina. Terá de apoiar um governador que tomar uma medida mais dura.

Como vê os parlamentares que ameaçam deixar de apoiar o governo caso o presidente não mude?
Tem que ver se é uma pressão direcionada para salvar vidas ou para a negociação de cargos.

Posto falido

Guedes assumiu como o “Posto Ipiranga” de Bolsonaro. Forte, encheu o governo de economistas amigos. Trouxe Susana Cordeiro Guerra (foto) dos EUA para presidir o IBGE. Ela veio para fazer o Censo e pedia R$ 2 bilhões para o projeto, mas no orçamento de 2021 as verbas do instituto caíram para R$ 71 milhões. Susana pediu demissão.

WILTON JUNIOR

Debandada

Susana está entre as dezenas de secretários do ministério e presidentes de estatais que Guedes levou para o governo e que estão batendo em retirada. O primeiro a pedir para sair foi Paulo Uebel. Também saíram Cintra, Mattar, Mansueto, Troyjo, Megale, Rubens Novaes (BB) e Castelo Branco (Petrobras), entre outros. O posto de Guedes faliu.

Partidos namoram Santa Cruz

Fernando Moraes

O presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, está sendo paparicado por vários partidos para ser candidato a governador do Rio de Janeiro no ano que vem. Seu nome foi lançado pelo prefeito carioca Eduardo Paes (DEM), mas o presidente estadual do PSDB, Paulo Marinho, disse que o convidou primeiro e teria aval de Doria. Pensam em consenso para um candidato do centro.

Rápidas

* O vice-presidente Hamilton Mourão, que está às turras com Bolsonaro, anda insatisfeito com os resultados horrorosos obtidos pelo governo no combate à pandemia. O general foi incisivo: “O número de mortos pela Covid no Brasil já ultrapassou o limite do bom senso”.

* O senador Fabiano Contarato apresentou projeto de lei isentando de Imposto de Renda os que ganham até R$ 4.135 por mês. Bolsonaro se comprometeu a rever a tabela do leão na campanha, mas descumpriu a promessa.

* A habilidade do presidente do STF, Luiz Fux, estará em jogo no próximo dia 14 na sessão do plenário marcada para decidir se mantém ou não a decisão do ministro Edson Fachin, que anulou as condenações de Lula em Curitiba.

* Doria está apreensivo com a decisão de vários prefeitos do interior do Estado que optaram pelo fechamento até de supermercados em suas medidas de lockdown: em 11 cidades houve crise de desabastecimento de alimentos.