O movimento islamista palestino Hamas instou, nesta quinta-feira (5), os Estados Unidos a exercerem uma “pressão real” sobre Israel para obter uma trégua em Gaza, mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descartou que um acordo esteja a caminho.

Os dois lados trocam acusações diante da estagnação das negociações por um cessar-fogo que permita a libertação dos reféns em Gaza.

Netanyahu sofre um aumento da pressão interna depois que as autoridades anunciaram, no fim de semana, que recuperaram os corpos de seis sequestrados em um túnel de Gaza.

“Se o governo americano e seu presidente, [Joe] Biden realmente querem alcançar um cessar-fogo e concluir uma troca de prisioneiros, têm que abandonar sua inclinação cega pela ocupação sionista e exercer uma pressão real sobre Netanyahu e seu governo”, disse o negociador do Hamas, Khalil al Hayya.

Netanyahu afirmou, durante entrevista à emissora americana Fox, que “não há um acordo a caminho”.

“Infelizmente, não estamos perto, mas faremos tudo o possível para levá-los a um ponto no qual aceitem um acordo e, ao mesmo tempo, evitemos que o Irã reabasteça Gaza como um enclave terrorista”, disse.

Netanyahu insiste em que as forças israelenses devem manter o controle do corredor Filadélfia, um ponto-chave na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, e prometeu que não cederá “às pressões sobre este tema”.

O Hamas exige a retirada total das tropas israelenses desta área e afirmou, nesta quinta-feira, que a postura de Netanyahu “busca frustrar um acordo”.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, informou, no entanto, que Washington estima que o pacto para um cessar-fogo esteja 90% acordado, mas acrescentou que “nada está negociado até que tudo esteja negociado”.

“As coisas que continuam sobre a mesa são questões muito, muito detalhadas, e é aí que as coisas ficam difíceis”, acrescentou.

– “Não em caixões” –

Em vários protestos esta semana em Israel, os críticos de Netanyahu o responsabilizaram pelas mortes dos reféns por se recusar a fazer as concessões que permitiriam alcançar uma trégua.

“Esperamos que retornem com vida e não em caixões”, declarou Anet Kidron, do kibutz Beeri, alvo de um ataque do Hamas em 7 de outubro.

Netanyahu afirmou que persistem as dúvidas sobre os prisioneiros palestinos que seriam trocados por reféns israelenses.

Mas o Catar, que atua como mediador nas negociações, alertou na terça-feira que a posição israelense “é baseada em uma tentativa de falsificar os fatos e enganar a opinião pública mundial”.

O conflito foi desencadeado em 7 de outubro, quando um ataque de combatentes do Hamas em Israel provocou a morte de 1.205 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço baseado em dados oficiais israelenses.

Além disso, os combatentes islamistas sequestraram 251 pessoas: 97 continuam retidas em Gaza e 33 morreram, de acordo com o Exército israelense.

Em resposta ao ataque, Israel lançou uma vasta retaliação que já deixou 40.878 mortos no território palestino, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza.

Em sua maioria, os mortos são mulheres e crianças, segundo a ONU.

– “Pânico” na Cisjordânia –

Israel lançou uma ofensiva maciça na Cisjordânia ocupada em 28 de agosto.

Nesta quinta, o Exército de Israel anunciou que um avião seu “efetuou três ataques seletivos contra terroristas armados” na área de Tubas, na Cisjordânia, que inclui o campo de refugiados de Faraa.

A Sociedade do Crescente Vermelho palestina afirmou em um comunicado que o ataque deixou cinco mortos e uma pessoa gravemente ferida.

Testemunhas relataram que vários soldados israelenses entraram no campo de Faraa, onde foram ouvidas explosões.

Desde o início da operação israelense em larga escala, pelo menos 36 palestinos foram mortos, incluindo crianças e combatentes, afirmou o Ministério da Saúde do território.

Um soldado israelense morreu em Jenin, cidade que registrou o maior número de vítimas palestinas.

“O pânico se propagou quando o Exército explodiu tudo ao redor sem considerar que havia crianças”, disse à AFP Hanan Natour, morador do campo de refugiados de Jenin.

– Campanha de vacinação –

As doenças se propagaram por Gaza, onde a maioria dos 2,4 milhões de habitantes foi forçada a fugir de casa, frequentemente abrigando-se em acampamentos superlotados e insalubres.

A crise humanitária em Gaza provocou o primeiro caso de pólio no território em 25 anos, o que gerou uma grande campanha de vacinação que começou no domingo graças a “pausas humanitárias” localizadas nos combates.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 200 mil crianças no centro de Gaza receberam a primeira dose da vacina contra a pólio. As autoridades esperam alcançar a marca de mais 640 mil crianças em todo o território nas próximas quatro semanas.

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