O Hamas e o Fatah se comprometeram, nesta quinta-feira (2), a se unir contra o projeto de anexação israelense de zonas da Cisjordânia ocupada, durante uma incomum entrevista coletiva conjunta dos partidos palestinos rivais.

“Vamos implementar todos os mecanismos para garantir a unidade nacional” contra o projeto israelense, afirmou o secretário-geral do Fatah, Jibril Rajub.

Ele disse se expressar em uma “única e só voz” nesta conferência com Saleh al-Aruri, dirigente do Hamas, que falou de Beirute, por vídeo.

“Afirmo que a posição da direção do Hamas é pelo consenso nacional. Esta entrevista coletiva conjunta é, por sua vez, uma oportunidade de iniciar uma nova etapa a serviço do nosso povo neste momento perigoso”, acrescentou Aruri.

O último encontro conhecido entre Hamas e Fatah foi em janeiro de 2020.

O Fatah, partido laico no poder na Cisjordânia, e o Hamas, movimento islamita no poder na Faixa de Gaza, enfrentam-se desde 2007. Naquele ano, o Hamas assumiu o controle desse enclave palestino, ao fim de uma quase guerra civil um ano após ter vencido as eleições legislativas.

Desde então, todos os esforços de reconciliação falharam.

Mas o projeto de Israel de anexar seus assentamentos e o Vale do Jordão na Cisjordânia, território palestino que ocupa desde 1967, parece ter mudado a situação.

Segundo o analista palestino Ghasan Al Jatib, ambas as formações consideram que o projeto de anexação é “muito perigoso e importante o suficiente para deixar de lado suas diferenças”.

A anexação de partes da Cisjordânia está prevista no plano dos EUA para o Oriente Médio, rejeitado em massa pelos palestinos desde sua apresentação no final de janeiro.

O texto prevê também a criação de um Estado palestino desmilitarizado em um território restrito com a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, a cerca de 50 km, unidos por um corredor.

Em meados de junho, o Hamas pediu ao povo palestino que “enfrente o projeto de anexação pela resistência em todas as suas formas” e que “transforme esse teste em uma oportunidade para colocar o projeto palestino de volta nos trilhos”.

– Tensão com os EUA? –

Benjamin Netanyahu, por sua vez, multiplica as consultas com autoridades americanas sobre seu projeto de anexação. O primeiro-ministro israelense classificou o plano de seu aliado, o presidente Donald Trump, como uma “oportunidade histórica”.

Após o acordo do governo de união assinado no início deste ano, Israel pode, em princípio, pronunciar-se desde quarta-feira sobre a aplicação do plano Trump.

Netanyahu se reuniu esta semana em Jerusalém com Avi Berkowitz, assessor especial de Donald Trump, e com David Friedman, embaixador dos EUA em Israel.

“Parece que uma parte da conversa [com os americanos] se refere a ações aos palestinos”, explicou à AFP Daniel Shapiro, embaixador em Israel durante o governo de Barack Obama.

A questão analisada por muitos observadores é se o primeiro-ministro optará por uma abordagem maximalista com a anexação do Vale do Jordão e de uma centena de assentamentos por Israel, ou uma minimalista com um punhado de assentamentos.

Também poderia adiar seu projeto, mas atualmente se beneficia do período propício, já que uma vitória nas eleições presidenciais americanas de novembro pelo democrata Joe Biden, contrário à anexação, poderia retirar o apoio dos EUA ao plano de anexação.

Dos manifestantes palestinos ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, os apelos se multiplicaram para pedir ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que abandone seu projeto de anexação na Cisjordânia. Este plano estenderia as “fronteiras” de Israel, com o risco de um novo conflito na região.