Hamas devolve corpos de mais quatro reféns levados de Israel

Hamas devolve corpos de mais quatro reféns levados de Israel

O Hamas entregou à Cruz Vermelha os corpos de quatro israelenses que eram mantidos reféns pelo grupo islamista dentro da Faixa de Gaza desde o ataque de 7 de outubro de 2023, informaram autoridades israelenses.

Trata-se de Ohad Yahalomi, Tsahi Idan, Itzik Elgarat e Shlomo Mantzur. Eles tinham 49, 49, 68 e 85 anos, respectivamente, quando foram levados por terroristas para a Faixa de Gaza.

A entrega foi confirmada nas primeiras horas da madrugada desta quinta-feira (horário local de Tel Aviv). Em troca, como parte de um acordo de cessar-fogo negociado no mês passado, Israel libertará mais de 600 prisioneiros palestinos. Segundo agências de notícias, os primeiros comboios levando dezenas de prisioneiros já haviam deixado a prisão de Ofer, em Israel.

Diferentemente das outras vezes, desta vez o Hamas não realizou um evento público para entrega dos corpos. O grupo havia sido criticado sob a acusação de usar os reféns para promover espetáculos cruéis e humilhantes para as vítimas e seus familiares, exibindo-os a multidões de palestinos em Gaza. Em reação, Israel chegou a atrasar a libertação de prisioneiros.

Os corpos libertados nesta quinta-feira ainda passarão por exame de DNA em Israel a fim de confirmar sua identidade. Só então Israel libertará todos os prisioneiros conforme acordado.

Alguns dos prisioneiros cumpriam pena perpétua por ataques mortais contra israelenses. Eles serão exilados e enviados para o Egito, ao menos temporariamente, até que outros países os aceitem.

Superada essa etapa, consideram-se cumpridas as obrigações das duas partes conforme previsto na primeira fase do cessar-fogo, com a devolução de 33 reféns – dos quais oito já mortos – em troca de quase 2 mil prisioneiros palestinos.

Outros cinco cidadãos tailandeses que também haviam sido sequestrados pelo Hamas foram libertados desde então, porém fora do escopo do acordo.

Exibição pública de caixões foi condenada pela ONU

Uma semana antes, no dia 20 de fevereiro, os restos mortais de quatro vítimas haviam sido entregues pelo Hamas numa cerimônia pública, diante dos palestinos e com faixas que responsabilizavam o governo do premiê israelense Benjamin Netanyahu pelas mortes.

A atitude foi condenada pelas Nações Unidas, que classificou a exibição pública dos corpos em caixões como afronta ao direito internacional.

Segundo uma porta-voz da entidade, qualquer entrega dos restos mortais de uma pessoa não pode ocorrer mediante “tratamento cruel, desumano ou degradante” e pressupõe “o respeito pela dignidade do falecido e de suas famílias”.

Dois dos quatro corpos entregues na semana anterior eram de dois irmãos, um bebê de 8 meses e um menino de 4 anos. O corpo da mãe deles, Shiri Bibas, foi entregue separadamente, após o Hamas alegar ter se confundido.

Milhares de israelenses acompanharam o enterro da família, realizado nesta quarta-feira (26/02) próximo ao kibbutz Nir Oz, onde eles viviam. Shiri e seus filhos foram enterrados próximo aos pais dela, também mortos no ataque de 7 de outubro. Apenas o marido dele, que também havia sido feito refém, mas fora libertado em 1º de fevereiro, sobreviveu.

Quem são os reféns entregues desta vez

Ohad Yahalomi, 49

O cidadão franco-israelense foi sequestrado enquanto estava em casa, no kibbutz Nir Oz. O filho dele Eitan, de 12 anos, também foi sequestrado e libertado em novembro de 2023, durante a primeira trégua.

A mulher de Yahalomi, Bat-Sheva, também franco-isralense, disse que a família tentou se proteger em um abrigo, mas que a porta não fechava, e por isso o marido ficou do lado de fora, armado, para protegê-los.

Yahalomi foi ferido numa troca de tiros. A esposa dele conseguiu fugir, junto com as duas filhas mais novas.

A morte dele foi comunicada por vídeo em janeiro de 2024 por um grupo aliado ao Hamas, mas a informação nunca havia sido confirmada pelo Exército israelense. Até a quarta-feira, acreditava-se que ele pudesse estar vivo.

Tsahi Idan, 49

O engenheiro vivia no kibbutz Nahal Oz e, no dia do ataque do Hamas, escondeu a esposa, Gali, e três dos quatro filhos em um abrigo. Uma delas, Maayan, de 18 anos, foi atingida por tiros enquanto ele tentava protegê-la e morreu em seus braços – o ataque foi transmitido ao vivo no Facebook pelo Hamas.

Com as mãos cobertas com o sangue da filha, foi levado para Gaza. Aos familiares que deixaram para trás, os terroristas avisaram: “Ele voltará.”

Idan era dado como vivo até a quarta-feira.

Itzik Elgarat, 68

Cidadão dinamarquês-israelense, foi alvejado na mão durante o ataque ao kibbutz Nir Oz, onde morava, antes de ser capturado.

Segundo o irmão dele, Daniel Elgarat, o último sinal emitido pelo telefone dele veio de Gaza.

Elgarat morou por 12 anos na Dinamarca, onde vivem seus dois filhos. Ele os havia visitado pouco antes do ataque.

Shlomo Mantzur, 85

Nascido no Iraque, ele por muitos anos tomou conta de uma granja no kibbutz Kissufim, que ajudara a fundar. Foi de lá que ele foi raptado, em 7 de outubro.

A mulher dele, Mazal, com quem viveu por 60 anos, conseguiu escapar.

Mantzur teve cinco filhos, gostava de jardinagem e de consertar os brinquedos dos netos.

Segundo afirmado pelas autoridades israelenses em fevereiro de 2024, Mansour havia sido levado já sem vida para dentro da Faixa de Gaza em 7 de outubro de 2023.

Segunda fase do acordo

A primeira fase do acordo deveria acabar neste sábado (01/03), e ainda pairam incertezas sobre quando será feita anegociação da segunda fase, que prevê a libertação de todos os reféns restantes e a negociação do fim da guerra na Faixa de Gaza.

Dos 62 reféns ainda em Gaza, acredita-se que 35 estejam mortos.

O acordo de cessar-fogo foi negociado com mediação dos Estados Unidos, Catar e Egito, pondo fim a 15 meses de uma guerra deflagrada por um ataque do Hamas contra Israel que deixou mais de 1,2 mil mortos e resultou no sequestro de 251 pessoas. Em resposta, Israel lançou uma série de ataques contra a Faixa de Gaza que deixaram mais de 48 mil mortos, segundo autoridades locais. Estima-se que os confrontos também tenham desalojado 90% dos mais de 2 milhões de moradores do território palestino.