O número 2 do Hamas morreu nesta terça-feira (2) em um bombardeio atribuído a Israel perto de Beirute, a capital do Líbano, anunciaram o movimento palestino e autoridades de segurança locais, aumentando os temores de um espalhamento do conflito travado entre o Exército israelense e os combatentes do grupo islamista em Gaza.

Saleh Al Arouri, exilado no Líbano há vários anos, morreu junto com seus seguranças em um bombardeio atribuído ao Exército israelense no sul de Beirute, bastião do movimento pró-Irã Hezbollah, informaram dois funcionários de segurança libaneses.

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, classificou o ataque de “ato terrorista” e garantiu que o movimento palestino “nunca será vencido”.

A agência nacional de notícias libanesa (Ani) informou que pelo menos sete pessoas morreram no bombardeio, realizado com um drone. Haniyeh, por sua vez, afirmou que dois chefes das brigadas Ezzedin al Qassam, o braço militar do Hamas, morreram no ataque, junto de outros quatro líderes do movimento islamista.

Perguntado pela AFP, o Exército israelense declarou que não comenta “informações de veículos de imprensa estrangeiros”. Seu porta-voz, Daniel Hagari, ressaltou que a força armada estava preparada diante de “qualquer cenário”.

A morte de Aruri reacende os temores de uma conflagração regional mais de dois meses depois do início da guerra entre Israel e Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007.

O conflito começou após um ataque sem precedentes do movimento islamista em Israel em 7 de outubro, que deixou 1.140 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em dados israelenses.

Os combatentes do Hamas, junto de outros grupos armados, também sequestraram naquele dia cerca de 250 pessoas, das quais mais de 100 ainda são mantidas reféns em Gaza, segundo as autoridades israelenses.

Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e lançou uma ofensiva incessante no estreito território palestino. O grupo, classificado como organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, afirma que a operação já causou 22.185 mortes, a maioria de mulheres e crianças.

– ‘Não ficará impune’ –

O Hezbollah, aliado do Hamas e apoiado pelo Irã, advertiu que o “assassinato” de Aruri “não ficará sem resposta nem impune”.

Através de sua morte, Israel “busca arrastar o Líbano para uma nova fase de confrontação”, disse, por sua vez, o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati.

Nessa mesma linha, o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, advertiu para os “riscos e consequências que poderiam derivar” desse “crime cometido por criminosos conhecidos”.

A fronteira entre Israel e Líbano se tornou um cenário de trocas de disparos quase diários entre o Exército israelense e o Hezbollah desde o início da guerra. Mas esta é a primeira vez que um bombardeio atinge os arredores de Beirute desde 7 de outubro.

Também é a primeira vez que morre um dirigente do Hamas de hierarquia tão alta desde o começo do conflito. O Exército israelense anunciou diversas vezes que eliminou dirigentes do grupo islamista em Gaza.

Muitos moradores se aproximaram durante a noite dos arredores do edifício bombardeado no subúrbio de Beirute, cuja fachada ficou danificada em dois andares.

Em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, muitos palestinos se reuniram após o anúncio da morte de Aruri, segundo a AFPTV. Nessa região, os enfrentamentos com o Exército e os colonos israelenses se multiplicaram desde o início do conflito.

A morte de Aruri, que passou cerca de 20 anos em prisões israelenses, não deterá a “resistência”, reagiu Ezzat al Rishq, membro do escritório político do Hamas, em comunicado. Sua casa na Cisjordânia foi destruída pelo Exército israelense no final de outubro.

– ‘Fugimos da morte’ –

Em Gaza, a ofensiva militar israelense não dá trégua.

Apesar das pressões da comunidade internacional para um cessar-fogo, o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, anunciou na segunda-feira que os militares estavam se preparando para “combates prolongados” que se estenderão “ao longo deste ano”.

O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, seguiu na mesma linha nesta terça-feira e disse que “a ideia de que poderíamos parar em breve está errada”.

“Sem uma vitória clara, não poderemos viver no Oriente Médio”, acrescentou, após visitar um contingente de soldados no estreito território palestino, onde 173 militares israelenses morreram desde o início do conflito.

No sul de Gaza, várias testemunhas relataram impactos de mísseis em Rafah (sul) e bombardeios perto do campo de refugiados de Jabaliya (norte).

Também foram registrados combates em Al Maghazi e Bureij e na principal cidade do sul, Khan Yunis, onde o Exército israelense concentrou suas operações.

O Crescente Vermelho palestino anunciou na rede social X que suas instalações tinham sido atingidas por bombardeios israelenses nessa cidade. O Ministério da Saúde de Gaza disse que esses ataques deixaram quatro mortos, incluindo um recém-nascido.

“Estávamos nas instalações do Crescente Vermelho, somos civis evacuados de Gaza, fugimos da morte”, declarou Fathi al Af, sentada ao lado de seus filhos em uma maca no hospital Nasser de Khan Yunis.

“Nos disseram para irmos para o sul, que seria seguro, mas são uns mentirosos. Nenhum lugar na Faixa de Gaza é seguro”, acrescentou ela entre lágrimas.

A guerra devastou o território, onde a população enfrenta uma grave crise humanitária. Além disso, a ONU estima que 85% dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados pelo conflito.

Israel impôs um cerco completo à Faixa em 9 de outubro, impedindo a entrada de comida, água, combustível e remédios.

Embora exista uma resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo o envio “imediato” e “em grande escala” de ajuda humanitária para Gaza, os caminhões com mantimentos entram a conta-gotas.