Embora seu país brilhe na modalidade olímpica do levantamento de peso, os halterofilistas chineses lutam contra um preconceito profundamente arraigado na China, segundo o qual seu esporte os torna menores e deformados.

“Vemos na televisão atletas com glúteos grandes, coxas grandes e o rosto completamente vermelho enquanto levantam pesos nos Jogos Olímpicos”, explica Gabriella Qu, dona de uma academia em um porão em Xangai.

“É aí que as pessoas dizem a si mesmas: não é muito bonito, não é a imagem que quero passar de mim mesmo”, acrescenta a atleta de 30 anos, cujo clube atende pelo nome evocativo de “Vênus halterofilia”.

Mas esse esporte não transmite a imagem de graça e fragilidade que tradicionalmente se espera das mulheres chinesas.

Xu Weiya, de 28 anos, confessa que ouviu “muitos comentários” de seus próprios pais depois que iniciou a prática da modalidade, aconselhada por seu marido, que também é um praticante não profissional do esporte.

– “Não é pra você” –

“Minha mãe me dizia que os halterofilistas eram pequenos e fortes, e que por isso esse esporte não é pra mim”, explicou à AFP.

A foto de uma levantadora de peso chinesa em competição nos Jogos Olímpicos de Tóquio gerou polêmica nas redes sociais.

A embaixada chinesa no Sri Lanka acusou a agência de notícias ocidental que produziu a foto de ter tentado transmitir uma imagem negativa dos atletas do país.

A foto em questão foi, no entanto, divulgada sem culpa por vários meios de comunicação chineses.

Gabriella Qu afirma que abriu sua academia em 2015 justamente para promover o levantamento de peso, atividade que pratica enquanto dá aulas.

Apesar da abundante colheita de medalhas pela China nesta modalidade nos Jogos de Tóquio, graças aos atletas que treinam intensamente desde a infância, o esporte não é muito acessível ao cidadão comum.

Os praticantes que frequentam as instalações de Gabriella esperam que o sucesso da China no cenário dos Jogos Olímpicos torne o esporte mais popular no país.

“Os pesos não deixam você pequeno ou gordo. Tudo o que eles fazem é proporcionar uma boa saúde”, assegura Xu Weiya, que não se importa com o que os outros possam pensar dela.

“A beleza não existe apenas de uma forma específica”, conclui.