Centenas de migrantes haitianos formaram enormes filas nesta quinta-feira (23) na Cidade do México para solicitar asilo e permanecer no país, diante da dificuldade de atravessar a fronteira para os Estados Unidos, conforme constatou a AFP.

Os estrangeiros, entre os quais há famílias inteiras, realizam os trâmites nos escritórios da Comissão de Ajuda aos Refugiados (Comar), cujas dependências na cidade de Tapachula, na fronteira sul com a Guatemala, estão sobrecarregadas com as solicitações de milhares de haitianos.

Silvestre Castellin, de 36 anos, chegou há um mês à capital mexicana em um voo procedente do Chile, onde viveu por seis anos. Assim como muitos de seus compatriotas haitianos, ele quer legalizar sua residência no México.

“As pessoas estão aqui pelo que está acontecendo lá [na fronteira com os Estados Unidos], elas decidiram ficar aqui”, disse à AFP Castellin, ao se referir à crise desencadeada pelo enorme fluxo recente de haitianos em Tapachula e Ciudad Acuña, na fronteira com o estado americano do Texas.

Fugindo da pobreza e do caos, os haitianos buscam asilo nos Estados Unidos, muitos deles após percorrer uma dezena de países, como Panamá e Colômbia, em cuja fronteira há 19.000 migrantes ilhados, a maioria haitianos.

Contudo, diante da deportação por parte dos Estados Unidos de centenas de haitianos que haviam entrado no país vindos do México, alguns decidiram mudar de plano e tentar permanecer no país latino-americano.

“Quando vejo o que está acontecendo na fronteira, me dói, pela forma como [a patrulha fronteiriça] trata os migrantes. Eu acredito que nós todos somos iguais”, lamentou o jovem.

Castellin, que é técnico em informática, migrou para o Chile após o terremoto de 2010 no Haiti, que deixou cerca de 200 mil mortos.

No entanto, ele conta que foi vítima de racismo e discriminação no país sul-americano, onde trabalhou como motorista. “Eles nos maltratam por nossa cor”, argumentou.

Isaac Hyclair, de 35 anos, também sobreviveu à via-crúcis que os haitianos procedentes de América do Sul enfrentam, viajando por dez países, o que inclui a perigosa floresta colombiana de Darién, onde frequentemente são alvo do crime organizado.

Queremos “chegar a um país que respeita os direitos humanos, que respeita as pessoas, e viver, nada mais que isso. Estamos buscando um lugar onde haja estabilidade, as pessoas não podem viver onde não existe estabilidade”, declarou Hyclair.