A violência das gangues cada vez mais difundida na capital haitiana, Porto Príncipe, está levando ao deslocamento de “grandes quantidades de pessoas” e a um sofrimento humano “alarmante”, denunciou uma funcionária da ONU nesta quinta-feira (21).

Até o momento, foram registrados mais de “48.000 novos deslocamentos, a maioria famílias”, devido à violência das gangues fortemente armadas que “estão avançando em novas áreas da capital”, disse Ulrika Richardson, coordenadora de assuntos humanitários da ONU no Haiti, em uma videoconferência para a imprensa credenciada na sede da organização em Nova York.

“Nas últimas semanas, vimos uma enorme quantidade de pessoas fugindo de seus bairros, à medida que as gangues os ocupam”, alertou, destacando a necessidade de mais fundos para realizar trabalhos humanitários.

“Há um enorme cansaço, um sofrimento humano em uma escala alarmante” e “muita tensão nas ruas”, disse, lamentando a “instabilidade política estrutural”.

O país caribenho tem vivido semanas de caos desde que grupos armados desafiaram o controverso primeiro-ministro Ariel Henry, com ataques contra delegacias, prisões e outros prédios públicos, até conseguirem sua renúncia.

Na semana passada, Henry concordou em renunciar e dar lugar à criação de um conselho presidencial de sete membros, cuja formação foi atrasada por dissensões internas.

“Vocês lembrarão que […] no início de fevereiro, dissemos que janeiro foi o mês mais violento em dois anos e, infelizmente, em breve poderemos dizer que foi confirmado que fevereiro foi ainda mais violento”, com 2.500 pessoas mortas, sequestradas ou feridas desde o início do ano, lembrou.

“As gangues continuam a ter uma visão sistemática da violência sexual, e o fazem para ter controle, e também por vingança”, relatou, lembrando que o aeroporto da capital continua fechado para voos internacionais e o porto parcialmente paralisado.

Dos 11,4 milhões de haitianos, mais de 5,5 milhões dependem de ajuda humanitária, especialmente crianças, já que “25% sofrem de desnutrição crônica”.

Dos US$ 674 milhões (R$ 3,35 bilhões) necessários para este ano, a ONU dispõe apenas de 6,5% desse valor. “Isso significa que se tivéssemos mais dinheiro, poderíamos fazer muito mais, mesmo com essas dificuldades no terreno”, disse Richardson.

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