O candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) Fernando Haddad afirmou que, se o assassinato do vereador venezuelano Fernando Albán por agentes do Estado for comprovado, seu eventual governo não hesitará em repudiar e que não pactuará com regimes que usam a força bruta.

Albán, acusado de participar de um ataque contra o presidente Nicolás Maduro, morreu no dia 8 de outubro ao cair do décimo andar da sede do serviço de inteligência em Caracas.

O governo venezuelano afirma que foi suicídio, mas seus parentes denunciam que se tratou de assassinato. Países como Brasil e Estados Unidos, a União Europeia e as Nações Unidas pediram uma investigação independente sobre o caso.

“Se ficar comprovado que o vereador foi assassinado, por exemplo, por agentes do Estado, você pode contar que, se for no meu governo, vai receber o repudio devido. Nós não vamos brincar com a vida das pessoas nem vamos compactuar com regimes que usam a força bruta para fazer valer seus interesses”, disse Haddad em entrevista exclusiva à AFP.

Haddad, que disputa em desvantagem o segundo turno contra o candidato de ultradireita Jair Bolsonaro, se absteve de classificar o governo de Maduro como um regime de força, mas reconheceu que “o ambiente na Venezuela não é o melhor possível para as duas partes”.

O candidato garantiu que, se eleito, usará a diplomacia para “mediar, sem tomar partido nos conflitos, para encontrar uma situação democrática e pacífica em qualquer Estado”.

A Venezuela, que sofre uma grave crise econômica e política, manteve laços estreitos durante as presidências de Hugo Chávez (1999-2013) e de Maduro com os governos de Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016).

Haddad, no entanto, procurou tranquilizar parte do eleitorado que acredita que um novo governo do PT poderá levar o Brasil pelo mesmo caminho da Venezuela.

“Governamos 13 anos o país e não teve uma cena sequer parecida com o que está acontecendo na Venezuela”, lembrou.

“O PT nasceu do questionamento a todos os regimes autoritários de esquerda e de direita, ao contrário do Bolsonaro, que saiu das entranhas da ditadura militar, que se trata de uma pessoa que cultiva a tortura como valor. Repudiamos qualquer ato de violência”, afirmou.

“Eu tinha 26 anos quando escrevi um livro contra todos os regimes autoritários de esquerda. Eu, sendo uma pessoa de centro-esquerda, não compactuo com nenhum regime de força, não vou tolerar nenhuma medida de força”, acrescentou.

“Na minha opinião, a grande ameaça ao continente é o Bolsonaro, e vocês estão aqui perguntando isso diante da maior ameaça que nós estamos correndo desde a redemocratização. Me parece uma distorção da realidade brasileira”.