Dizem que, no Brasil, o futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes. Na Argentina, contudo, seguramente, é a coisa mais importante dentre as mais importantes. A paixão de nossos hermanos pelo esporte bretão é ímpar no mundo, e pela seleção nacional, então, nem se fala.

A festa que fizeram os argentinos, ontem, em Buenos Aires, foi simplesmente comovente. Como comoventes são os vídeos dos jogadores no vestiário após o título, e os torcedores, em prantos, no estádio e pelas ruas do Catar. Na boa, nem consigo lamentar não ser a Seleção Brasileira a campeã.

A Argentina vive uma interminável crise política, social e econômica. Há décadas caminham em círculos, em torno do fogo, no fundo abismo – sim, já caíram faz tempo. Ardendo no mármore do inferno da corrupção, da incompetência e do populismo de esquerda, o país empobrece a cada novo governo.

Por isso, essa Copa tem tanto significado para os argentinos. A autoestima dessa gente anda no fundo do subsolo do poço do quinto dos infernos, coitados. Certamente passarão um fim de ano muito, mas muito menos sofrido – quiçá, feliz – pelo título tão esperado e muito mais do que merecido. Sobretudo para Messi.

Os grandes astros planetários do futebol, com exceção de Cristiano Ronaldo, têm uma Copa do Mundo para chamar de sua. Ronaldo, Ronaldinho, Maradona, Pelé, Zidane… Só faltava Lionel Messi. E ela chegou como deveria chegar, com requintes de dramaticidade, emoção até o fim e a redenção heróica dos pênaltis.

O futebol está longe de ser um esporte justo. Ao contrário. Sorte e azar, competência e incompetência, juízes e cartolas, equilíbrio e desequilíbrio emocional, enfim, são tantos os fatores que interferem na vitória merecida, ou na derrota certa, que não dá para enumerar. Talvez, por isso, seja tão apaixonante e o maior esporte do mundo.

Mas, neste domingo (18/12), a justiça foi feita. Com a Argentina e com Messi. Em verdade, com os fãs do futebol. E a história só não foi perfeita porque estragaram, irremediável e eternamente, a foto de Lionel, trajando o manto azul e branco, ao vestir-lhe uma túnica totalmente fora de hora e lugar.

Particularmente, senti e sentirei falta da imagem de Messi, levantando a taça pela Seleção Argentina, afinal, ali estava não o capitão, mas uma espécie de garoto-propaganda do ditador árabe. Que pena! Como pena foi a cena lamentável do goleiro-herói, transformando seu troféu em símbolo fálico de péssimo gosto.

Daqui a quatro anos, na América do Norte, Messi não estará jogando. Cristiano Ronaldo, também não. Neymar, talvez. Mbappé, seguramente. Se não surgir nenhum outro, será o grande astro de 2026. O Brasil estará completando 24 anos de jejum, como completou em 1994, também nos EUA. Tomara que seja a nossa vez. A sexta. E que o País não esteja tão mal assim.