Bolha, nicho, grupo, estrato, chame como quiser o leitor amigo, a leitora amiga. As sociedades modernas são formadas por inúmeros destes substantivos acima, em que pessoas se agrupam de acordo com valores, preferências, condição social e estilo de vida.

Em Banânia – esse imenso pedaço de chão esquecido por Deus e lindo por natureza -, ou em Tuvalu, um dos menores países do mundo (em verdade, uma ilhota no Pacífico sul), semelhantes buscam seus semelhantes enquanto guerreiam contra os opostos.

Sociedades modernas e desenvolvidas não são diferentes, mas, nestas, as instituições – geralmente democráticas – se encarregam de diminuir a tensão social, promover a cultura da colaboração e mantêm os bárbaros sob controle, através do rigor a da aplicação das leis.

Noruegueses são e têm diferenças entre si. Mas o Estado, como acabei de afirmar, através de instituições fortes provém segurança, saúde, educação e relativa igualdade sócio-econômica, mantendo equilibrada a tensão social inerente ao ser humano agrupado.

O excelente pesquisador, professor e cientista político Felipe Nunes, do não menos excelente instituto Quaest, publicou recentemente um artigo, nos mostrando o que chamou de “calcificação” do País. Importante não confundir com “polarização”, portanto.

Felipe e seu time se debruçaram sobre o movimento nas redes sociais após o caso das joias sauditas, aparentemente tomadas de forma irregular por Jair Bolsonaro, e os ruídos do governo Lula, envolvendo corrupção de ministro e declarações polêmicas.

O que seria um escândalo para mim, e para pessoas que não professam ideologias políticas, é tratado de forma distinta entre os grupos de bolsonaristas e petistas. Cada bolha ataca os rivais, mas relativiza, ou se omite, dos casos que envolvem seus ídolos.

No bolsonarismo, o assunto das joias é tratado com profundo desdém. Já no lulopetismo, só se fala disso. Essa semana, outro exemplo: o deputado federal mineiro, Nikolas Ferreira, protagonizou outro triste momento de transfobia explícita e o Brasil “meio que surtou”.

Meio, neste caso, literalmente, pois a revolta que se percebeu em parte da sociedade é o aplauso, em outra. Uma petição pela cassação do parlamentar, até ontem, contava com 150 mil assinaturas. De outro lado, o bolsonarista ganhou 50 mil novos seguidores nas redes.

O estrato transfóbico da sociedade aplaude seu guru, enquanto o estrato oposto o ataca. O mesmo se dá com Bolsonaro, no caso das joias ou em qualquer outro enrosco criminal, bem como com Lula, seja no mensalão, petrolão ou o mais absurdo e claro desvio ético.

Eu não sou especialista em nada, mas me especializei em observar o próximo como se fosse um experimento. Diante de algo que me choca, busco o olhar de quem me cerca e… bingo! É quase sempre o mesmo. E como poderia ser diferente se vivo numa bolha?

Assim, para que eu possa formar melhores opiniões – já que sou um palpiteiro contumaz -, procuro olhar para além do muro. Na genial obra de Alan Parker, com Bob Geldof, The Wall, ao som no imortal Pink Floyd, a resposta para uma boa parte de nossos males:l
Outside The Wall (Fora do Muro)
All alone, or in twos (Sozinhos, ou aos pares)
The ones who really love you (Quem realmente ama você)
Walk up and down outside the wall (Faz de tudo do lado de fora do muro)
Some hand in hand (Alguns de mãos dadas)
Some gathering together in bands (Alguns reunidos em bandos)
The bleeding hearts and the artists (Os de bom coração e os artistas)
Make their stand (Fazem sua parte)
And when they’ve given you their all (E ao lhes darem tudo o que têm)
Some stagger and fall after all it’s not easy (Alguns tropeçam e caem; afinal de contas, não é fácil)
Banging your heart against some mad buggers wall (Fazer seu coração bater contra um Muro amaldiçoado)