A argentina Selva Almada pertence a uma nova tendência de escritores latino-americanos que estão se tornando conhecidos internacionalmente.

“Há mais atenção à nossa literatura nos últimos anos”, reconhece em Londres, durante uma entrevista à AFP.

A escritora de 51 anos, nascida na província de Entre Ríos, viajou até a capital inglesa, onde estará até domingo, depois de ser selecionada para concorrer ao Booker International Prize, prestigiado prêmio literário britânico, que foi conquistado pela alemã Jenny Erpenbeck na terça-feira (21), com seu livro “Kairos”.

Almada, finalista com a tradução inglesa do seu livro “Não é um rio”, foi destacada pelos organizadores do prestigiado prêmio como “uma das vozes mais poderosas da literatura latino-americana contemporânea e uma das intelectuais feministas mais influentes da região”.

“Acho que neste momento a literatura latino-americana é muito boa. Há uma variedade de autores, principalmente autoras mulheres, muito diversas, muito ricas, com livros super interessantes. E também são autoras que, por sorte, são muito traduzidas para outros idiomas”, opina.

“Além do Booker, há uma atenção à literatura latino-americana por parte do resto do mundo nos últimos anos, graças a esses livros e a essas autoras”, acrescenta.

– Traduzida para vários idiomas –

As obras de Selva Almada foram traduzidas para o francês, inglês, italiano, português, alemão, holandês, sueco, norueguês e turco.

“Quando escrevo um livro e o publico na Argentina, seu futuro é sempre bastante incerto. Então o fato de ser traduzido, de circular, de ter novos leitores, para mim é uma grande alegria. Isso contribui para difundir a literatura argentina e latino-americana no mundo, pelo que estou duplamente feliz”, afirma.

“Não é um rio”, selecionado em Londres, é o terceiro romance da autora, na sequência de “O vento que arrasa” e “Ladrilleros”, depois de Almada ter iniciado no mundo literário com “Mal de muñecas”.

“Ter sido selecionada é muito importante para mim pessoalmente como autora, mas também como parte da literatura latino-americana, porque é um prêmio muito importante para colocar livros em circulação e para que os leitores também olhem um pouco para os autores latino-americanos. “, explica Almada.

“Não é um rio”, que concorreu ao Prêmio Booker, pode ser considerado o terceiro capítulo de uma trilogia de obras de Selva Almada, depois dos dois romances anteriores, nos quais explora o mundo dos homens, focando nos vínculos afetivos que normalmente se estabelecem entre eles, como sentimentos e violência.

– Temática sobre o mundo dos homens –

“Os três romances têm os homens como protagonistas e são investigadas as diferentes formas de relacionamento que os homens possuem. As relações entre pais e filhos, entre amigos, entre amantes.

É um universo bastante permeado pela masculinidade e pela misoginia”, diz a autora.

“Tenho bastante curiosidade sobre o mundo dos homens e sobretudo por imaginar as possibilidades do por que agem como agem. Principalmente pensando que o nosso continente é muito atingido pelo machismo. Trato de desentranhar nos romances e na ficção um pouco de como esse dispositivo funciona”, afirma.

Em 2021, Almada colaborou com o diretor argentino Maximiliano Schonfeld no filme “Jesús López” e foi finalista do Prêmio Bienal de Novela Mario Vargas Llosa, também com “Não é um rio”, que venceria em 2023, em Roma, o prêmio “IILA-Letteratura”.

“A única coisa que tento fazer é continuar escrevendo. Me divirto muito escrevendo. Cada vez que começo um novo livro é como uma espécie de abismo que observo. Gosto muito dessa sensação. E depois, bom, comemoro que haja leitores interessados nesses livros”, diz ela.

“A troca que acontece com esses leitores é muito interessante para mim, muito rica. Interessa-me uma literatura que entretém. Sou muito leitora desde criança e devo aos livros que me abriram portas para mundos desconhecidos. Se isso também acontece com alguém que leia meus livros, acho que o trabalho está feito”, conclui.

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