Puerto Vallarta, no México, é conhecida por encontros românticos: lá, os astros Richard Burton e Elizabeth Taylor consumaram uma tórrida paixão. Nos últimos dias, a cidade reuniu outro tipo de estrelas. Eram presidentes de países latino-americanos que tentavam firmar um acordo entre o blocos econômicos Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru). O encontro foi visto como uma resposta às medidas protecionistas do presidente americano, Donald Trump. E terminou apenas com a assinatura de um documento que reforça o compromisso de firmar bases para um futuro acordo.

O momento não era dos melhores. Houve duas ausências: o presidente do Paraguai, Horacio Cartes, que renunciou e, pouco depois, desistiu da renúncia, e o da Argentina, Mauricio Macri. Outros três estão em fim de mandato: o brasileiro Michel Temer, o colombiano Juan Manuel Santos e o mexicano Enrique Peña Nieto. “A aproximação dos blocos faz parte de uma agenda que transcende mudanças no executivo”, afirma Diego Coelho, coordenador do Observatório de Multinacionais da ESPM. “Mas o clima é de instabilidade”. As eleições no Brasil são uma incerteza. A Argentina está com problemas internos. O México passará por uma mudança histórica. O Paraguai precisa resolver a renúncia de Cartes. “São agendas domésticas que impedem resultados mais práticos nesse momento”, diz Coelho. Se o acordo for para frente, como aponta o documento assinado pelos participantes, o Brasil terá muito a ganhar, uma vez que ainda tem um papel tímido no comércio internacional. A facilitação de investimentos, serviços e cooperação entre as nações latinas seria benéfica, assim como uma eventual zona de livre comércio, não levada a termo no encontro.

Contra o isolamento
As boas intenções de fortalecer a região esbarram nos planos não só de Trump como da União Europeia, que anunciaram a intenção de trabalhar em um acordo que prevê “tarifa zero”. O anúncio representa um respiro nas “guerras econômicas” que o presidente americano tem travado. As medidas protecionistas implantadas por ele geraram uma onda de reações de potências como a China.

Com protecionismo de um lado e nacionalismo do outro — representado principalmente pela decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia — a solidez dos blocos econômicos tem sido testada. “São visões de curto prazo, com ganhos marginais”, diz Diego Coelho. “Vivemos um período de transição, que gera tensão econômica. Mas esses movimentos contenciosos são momentâneos e não devem se sustentar a longo prazo”. Tomara.