A crise alterou a sazonalidade que marcava o mercado de trabalho, então é possível que a taxa de desemprego não recue no último trimestre conforme o esperado. A avaliação é do coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo. “Em função da desconfiguração da sazonalidade, apostar em redução na taxa de desocupação no último trimestre fica mais complicado”, reconheceu Azeredo.

O País perdeu 604 mil postos de trabalho na passagem do trimestre encerrado em julho para o trimestre encerrado em outubro, contrariando o movimento de aumento nas contratações para as festas de fim de ano. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

“Essa perda de quase 600 mil postos de trabalho quase no final do ano é o quadro mais alarmante da Pnad Contínua. O desenho sazonal apontava para outra direção”, avaliou Azeredo.

Ao mesmo tempo, a população de inativos cresceu em 668 mil pessoas, enquanto a fila do desemprego ficou estatisticamente estável, com 195 mil indivíduos a mais em busca de uma vaga.

“Por que as pessoas estariam sendo demitidas agora? E por que as pessoas que deveriam estar procurando trabalho não foram (atrás de uma vaga)? Isso é uma descontinuidade da sazonalidade do período”, lembrou o coordenador. “A desocupação estável dá uma primeira leitura favorável, mas a ocupação cai e a população fora da força de trabalho aumenta. As pessoas perderam emprego e não estão procurando trabalho. São pessoas que podem estar desestimuladas a procurar trabalho”, completou.

Azeredo diz que os trabalhadores demitidos podem ainda não ter tido tempo de buscar outra vaga, mas confirma que a estabilidade no total de desempregados tem indícios de desalento. Segundo ele, o desalento – quando uma pessoa não busca uma vaga porque acredita que não conseguiria encontrar emprego – é um fenômeno característico de períodos de crise.

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A população inativa alcançou patamar recorde de 64,727 milhões de pessoas no trimestre encerrado em outubro. Em relação ao mesmo trimestre de 2015, a inatividade cresceu 2,3%, 1,462 milhão de pessoas a mais fora da força de trabalho. Já a população ocupada caiu 2,6%, a maior queda já registrada pela série histórica iniciada em 2012 na Pnad Contínua, com 2,402 milhões de vagas eliminadas.

“O mercado de trabalho em pleno trimestre terminado em outubro, às vésperas de fechar o ano, tem uma situação desfavorável”, avaliou Azeredo.

Renda

A renda média do trabalhador ocupado cresceu 0,9% no trimestre encerrado em outubro ante o trimestre anterior, encerrado em julho: passou de R$ 2.006 para R$ 2.025. No entanto, o movimento não é favorável, ponderou o coordenador Cimar Azeredo. Segundo ele, a renda média aumentou por causa do corte de vagas com salários mais baixos.

“Não temos aumento de dissídio algum, não temos aumento de salário mínimo. A conclusão que se chega é que as pessoas que perderam emprego com carteira assinada foram as de menores rendimentos, consequentemente, isso faz a média da renda subir”, disse Azeredo.

Segundo os dados da Pnad Contínua divulgada nesta terça houve redução de 303 mil postos de trabalho com carteira assinada no setor privado entre julho e outubro. A renda média para essa categoria de trabalhador aumentou 1,9% no período, crescimento acima da média

Geral.

“A carteira assinada representa cerca de 50% da população ocupada”, lembrou o coordenador do IBGE.

Efeitos da crise

A crise no mercado de trabalho já resultou em 5,472 milhões de desempregados a mais no País. O cálculo foi feito por Cimar Azeredo, com base nos dados da população desocupada desde o trimestre encerrado em outubro de 2013 até o trimestre encerrado em outubro de 2016, quando houve a deterioração no emprego.

“Pela décima divulgação consecutiva, tivemos aumento significativo na taxa de desemprego”, disse Azeredo, referindo-se à comparação com os mesmos trimestres do ano anterior.


A taxa de desemprego no País ficou em 11,8% no trimestre encerrado em outubro, mantendo-se no patamar recorde da série histórica, já registrado em agosto e setembro, a despeito da tendência sazonal de geração de vagas no fim do ano.


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