Enquanto o 75º Festival de Cinema de Cannes acontece na França, o maior feito do cinema nacional completa 60 anos. Foi no dia 23 de maio de 1962 que o Brasil ganharia aquela que seria a maior premiação de sua história: a Palma de Ouro, prêmio máximo concedido pelo tradicional festival francês. “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, que conquistou o feito, tem um roteiro simples, mas emocionante. Zé do Burro, vivido pelo ator Leonardo Villar, e sua mulher Rosa, interpretada por Glória Menezes, precisam viajar até Salvador para cumprir a promessa religiosa que garantiu a recuperação do burro de estimação do protagonista, que fora atingido por um raio. Após andar 42 quilômetros com uma cruz de madeira nas costas, Zé tem sua entrada na igreja negada, já que fez sua promessa para Santa Bárbara em um terreiro de Candomblé.

Rodado em preto e branco, a obra é envolvente: os sofrimentos de Zé podem ser sentidos pelos telespectadores de todas as idades – ainda mais por aqueles que amam seus animais de estimação. E, se até um passado recente era difícil encontrar clássicos do cinema dando bobeira pelo streaming, “O Pagador de Promessas” está disponível na GloboPlay e também entrou em cartaz em alguns poucos cinemas do País, como forma de celebrar a data. Ou seja, vale demais revisitar – ou visitar pela primeira vez – o clássico.

O filme, um representante polêmico do movimento chamado de Cinema Novo, gerou discussões acaloradas em suas seis décadas de existência. Teria uma “estética norte-americana”, segundo os críticos, fugindo da suposta originalidade de outra obra do período, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha. Porém, esses detalhes que só interessam aos cinéfilos não tiram em nada a beleza do enredo e da fotografia, realizada pelo inglês Chick Fowle.

Anselmo Duarte também conquistou outro feito além de Cannes, seu longa-metragem foi o primeiro filme da América Latina a concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1963. Não levou, o ganhador da noite foi o francês “Les dimanches de Ville d’Avray”. Derrotas e vitórias a parte, a pergunta que fica é: quanto veremos nosso cinema ser indicado outra vez?