Há 40 anos estudantes islâmicos iranianos invadiram a embaixada dos Estados Unidos em Teerã e fizeram 52 pessoas como reféns. A crise demorou 444 dias e provocou a ruptura das relações entre os dois países.

Esta é a história, baseada no noticiário da AFP, de um dos principais eventos da Revolução Islâmica iraniana e que virou o símbolo do confronto entre o Irã e o país que o regime chama de “Grande Satã” americano.

– “Olhos vendados e mãos atadas” –

Em 4 de novembro de 1979, sete meses depois da proclamação da República Islâmica do Irã, entre 300 e 400 “estudantes islâmicos”, que seguiam para um protesto em uma universidade, atacam de maneira repentina a embaixada dos Estados Unidos.

Os participantes se apresentam como “estudantes islâmicos seguindo o caminho do imã Khomeini” e exigem a extradição do ex-xá Mohammad Reza Pahlavi, obrigado a abandonar o país em janeiro, após meses de manifestações, e que fazia tratamento médico nos Estados Unidos.

“Armados com pedaços de pau (…) os estudantes invadiram o consulado depois de três horas de resistência, período em que os marines usaram gás lacrimogêneo antes de serem tomados como reféns”, relata um jornalista da AFP no local.

Os estudantes levam os prisioneiros, com os olhos vendados e as mãos atadas, dos escritórios do consulado para outro ponto da embaixada. Mais de 60 americanos viram reféns. Alguns são liberados rapidamente, mas 52 serão submetidos a um longo tormento.

“Diante da embaixada, uma forca foi erguida e exibe uma placa: ‘Para o xá’. De um lado, uma bandeira americana queima na frente de centenas de manifestantes que vieram manifestar apoio, do lado de fora, aos que ocupam a embaixada”.

– “Allahu akbar” –

A bandeira dos Estados Unidos é substituída por uma faixa branca com as palavras “Allahu akbar” (“Deus é grande”).

“Ao lado das grades fechadas com um cadeado, um homem com um alto-falante grita frases antiamericanas, entre um verso do Alcorão e uma canção revolucionária. Policiais e guardas revolucionários estabelecem vigilância diante de uma parede repleta de frases”, afirma o repórter da AFP.

Por trás do muro, estudantes barbudos, armados com pedaços de pau, e estudantes com véu e grandes retratos do aiatolá Khomeini caminham ao redor dos jardins da embaixada dos Estados Unidos. “Pães e bandejas com sanduíches chegam até eles através das grades”, afirma a reportagem.

– O regime se radicaliza –

A tomada de reféns, aparentemente improvisada, revive de imediato o entusiasmo revolucionário que parecia ter diminuído. O sequestro é usado pelo regime islâmico para acabar com o governo do primeiro-ministro Mehdi Bazargan, que poderia ter negociado com os Estados Unidos.

Aos gritos de “Marg bar Amrika” (“Morte aos Estados Unidos”), os iranianos expressam apoio à ocupação da embaixada.

Em 6 de novembro, Bazargan renuncia, e o Conselho da Revolução, dominado por clérigos, toma o controle do país.

O Irã se recusa a vender petróleo para os Estados Unidos. Em resposta, Washington decreta o embargo de bens de consumo e congela as contas bancárias iranianas.

Em abril de 1980, o então presidente americano, Jimmy Carter, rompe as relações diplomáticas entre os países e impõe um embargo comercial.

– O fiasco do “Eagle Claw” –

Em 25 de abril, uma tentativa das forças especiais americanas para libertar os reféns termina em um desastre no deserto iraniano, perto de Tabas (nordeste).

A operação “Eagle Claw” (“Garra de Águia”) afunda em tempestades de areia e problemas mecânicos que provocam seu cancelamento. Três helicópteros param de funcionar, e um quarto cai, matando oito soldados americanos. O aiatolá Khomeini considera um castigo divino.

Os reféns são espalhados imediatamente por várias cidades do Irã, incluindo a cidade sagrada de Qom, a 100 quilômetros de Teerã.

Em 27 de julho, o ex-xá morre no Cairo, depois de passar 18 meses no exílio. Os estudantes islamitas mantêm o controle da embaixada americana e afirmam que os reféns serão libertados apenas depois da devolução ao Irã dos bens de Pahlavi.

– Fim do calvário –

Em setembro de 1980, o aiatolá Khomeini estabelece quatro condições para a libertação dos reféns: a devolução da propriedade do ex-xá, o desbloqueio dos ativos iranianos nos Estados Unidos, o cancelamento dos processos por danos contra o Irã por parte dos americanos e o respeito à não interferência nos assuntos iranianos.

Em 19 de janeiro de 1981, um acordo é concluído entre Teerã e Washington, após uma mediação da Argélia. Um dia depois, na mesma data da posse de Ronald Reagan como presidente, os 52 reféns são soltos.

A antiga representação americana, rebatizada como “ninho de espiões”, foi transformada em um museu que exibe os “crimes” de Washington contra Teerã.