1989 A população do Leste derrubou a “Cortina de Ferro” imposta pelo regime comunista: festa e sentimento de pertencer a uma nação (Crédito:WOLFGANG KUMM)

Os países democráticos e que prezam a liberdade, o direito à livre iniciativa e as garantias individuais da cidadania, incluída entre tais nações, sobretudo, a Alemanha, comemoram as três décadas da derrubada do Muro de Berlim, nesse sábado 9. Foi ele, o muro, em seus vinte e oito anos de existência, o mais vergonhoso, desumano e autoritário símbolo do regime comunista a separar um povo. A sua construção, em agosto de 1961, dera a prova definitiva de que, vencido em 1945 o plano expansionista da ditadura do nazismo e fascismo na Segunda Guerra Mundial, uma parte da Alemanha e demais países do Leste Europeu viveriam o inferno do comunismo espalhado pela ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), tiranizada por Joseph Stalin. Terminada a guerra, teve início outro conflito, opondo nos campos da ideologia e geopolítica um bloco de países capitalistas, liderado pelos EUA, a outro bloco integrado por países socialistas, sufocados e obrigatoriamente obedientes à URSS. Foi a chamada “Guerra Fria”. No caso do território alemão, especificamente, a parte Oeste alinhou-se à democracia e ao governo americano, passando a se chamar República Federal da Alemanha; a porção Leste, demagogicamente denominada República Democrática Alemã, ficou sob o jugo comunista do regime soviético.

Cães famintos

Uma frase não bem colocada em uma entrevista coletiva, transmitida ao vivo pela rede estatal de televisão da Alemanha comunista, acabou sendo decisiva para que o povo corresse ao muro carregando explosivos, marretas, picaretas e o incansável desejo de liberdade. Günter Schabowski, membro do governo da região Leste que vinha sendo pressionada externamente a se oxigenar do ponto de vista político, declarou que estavam abolidas as restrições de viagens para o outro lado do país. O povo entendeu da mais saudável maneira que quis entender: o Muro de Berlim não mais existira, portanto se tratava de colocá-lo no chão.

E assim foi feito. Como se sabe, a vontade de ser livre tem fortes garras, ou seja, quem correu até o apelidado “Muro da Vergonha” e “Cortina de Ferro” sem portar nenhuma ferramenta tentava arrancar tijolos com as mãos, ainda que as ferisse. Para se ter uma ideia da opressão que o Muro de Berlim significava, vamos a alguns aspectos concretos: ele possuía trezentas e duas torres de observação, cento e vinte e sete redes metálicas eletrificadas com arame, duzentas e cinquenta e cinco pistas de corrida para cães de guarda (mantidos intencionalmente sempre famintos) e cerca de sessenta quilômetros de gradeamento. A quem tentasse ultrapassá-lo em fuga para o lado Oeste, valia para os militares vigilantes aplicar aquilo que o governo chamava de “ordem cento e um”. Ou seja: atirar para matar.

Trinta anos se passaram, a Alemanha unificada mudou, a Europa mudou, o mundo mudou. Naquela época, uma ferrenha ativista contra o comunismo e a existência do muro começava a ganhar notoriedade na cidade de Leipzig. Seu nome: Angela Merkel, atualmente primeira-ministra do país, cargo que ocupa desde 2005, e ex-lider da União Democrata Cristã, função que exerceu entre 1998 e o ano 2000. Por ironia da história e da política, ela, que tanto batalhou contra o autoritarismo da esquerda e do comunismo, é responsabilizada agora pelo fato de a Alemanha enveredar politicamente à direita.

ROBERT MICHAEL

Angela Merkel lutou contra a divisão do país. Hoje é responsabilizada pelo crescimento da extrema direita devido ao acolhecimento de refugiados

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Desemprego e imigrantes

Igualmente irônico, na perspectiva sociológica, é que esse radicalismo da direita ganhe corpo justamente no Leste alemão, que tanto sofreu com a “Cortina de Ferro”.

O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) já é o terceiro mais forte do País com noventa e quatro cadeiras no Bundestag (Parlamento). A razão de tal crescimento é a insatisfação com a questão do desemprego e a profunda discrepância de renda em comparação à populaçãoda região Oeste do país. Há, no entanto, um motivo que pesa decisivamente — a linha política coerente e democrática de Angela Merkel sobre um ponto que hoje é crucial à União Européia: acertadamente, ela tem acolhido imigrantes e refugiados.

 


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