25/04/2019 - 11:28
Há 25 anos, as primeiras eleições livres na África do Sul encerravam o apartheid, um regime de segregação racial que durou quase meio século.
Duas semanas depois dessas eleições históricas, vencidas pelo Congresso Nacional Africano (ACN), o novo parlamento multirracial sul-africano elegeu um negro, Nelson Mandela, presidente do país.
– Separação de raças –
Ignorando a maioria negra, a África do Sul contemporânea nasceu “entre brancos” em 1910, da união dos colonos britânicos e dos africânderes ou bôeres, de origem holandesa.
O apartheid ou “desenvolvimento separado de raças” em afrikaner, sistematizou a partir de 1948 a segregação praticada desde o século XVII pelos primeiros colonos holandeses.
O sistema estabelecido pelo Partido Nacional (PN), que dominou a vida política do país de 1948 a 1994, apoiava-se em três pilares: a lei sobre a classificação da população, a lei sobre o habitat separado e a lei sobre a terra.
Os habitantes eram classificados desde o nascimento em quatro categorias: branco, negro, mestiço e índio.
Na vida cotidiana, havia placas para reservar ônibus, restaurantes, bilheterias e até praias para a população branca. Os casamentos mistos e sexo interracial eram proibidos. Os negros tinham acesso à educação e à saúde de menor qualidade.
Quase todo o território (87%) era reservado aos brancos. Cerca de 3,5 milhões de pessoas foram expulsas à força e os negros foram relegados aos “townships”, cidades-dormitório e “bantoustans”, reservas étnicas.
Até 1986, os negros tinham que viajar com uma carteira de identidade que indicava onde podiam ir, arriscando de outra forma à prisão ou multas.
– Resistência –
O estabelecimento do apartheid provocou resistência. O Congresso Nacional Africano (ANC) primeiro adotou métodos não violentos, como greves, boicotes e campanhas de desobediência civil.
Em 1960, a polícia abriu fogo contra manifestantes em Sharpeville, matando 69 negros. O ANC e o Partido Comunista foram proibidos e o estado de emergência foi estabelecido.
Na clandestinidade, o ANC optou pela luta armada. Em 1964, seu líder, Nelson Mandela, foi condenado à prisão perpétua por sabotagem. Em 1977, Steve Biko, fundador do Movimento da Consciência Negra, morreu na prisão espancado pela política, tornando-se símbolo da luta contra o apartheid.
As sanções internacionais contra a África do Sul foram se acumulando: exclusão dos Jogos Olímpicos, expulsão dos órgãos da ONU, embargo sobre armas…
– Primeiras eleições livres –
Em fevereiro de 1990, o presidente Frederik de Klerk, que estava há cinco meses no poder, surpreendeu a todos ao legalizar a oposição negra. Nelson Mandela foi libertado em 11 de fevereiro, após 27 anos de prisão. Um ano e meio depois o apartheid foi abolido.
A transição democrática foi trabalhosa. Foi freada pelos contrários a mudanças no seio dos serviços de segurança brancos e pela sangrenta rivalidade entre os militantes do ANC e do partido zulu Inkhata (IFP).
Pressão também era exercida pelos extremistas brancos (especialmente do Movimento da Resistência Afrikaner) e negros (os africanistas do Exército Popular de Libertação de Azania), que organizavam ataques.
Em abril de 1993, o país esteve à beira de mergulhar em uma guerra civil, quando um defensor da extrema direita branca assassinou Chris Hani, secretário-geral do Partido Comunista, um aliado do ANC.
Em abril de 1994, a África do Sul realizou as primeiras eleições multirraciais, virando a página sobre o apartheid. “Finalmente livres”, exclamou Nelson Mandela quando foi eleito presidente.