Em 11 de março de 2004, 10 bombas explodiram em quatro trens de Madri, deixando 192 mortos e quase 2.000 feridos. Os atentados comoveram uma Espanha mais acostumada às explosões do ETA que às do jihadismo.

– Bombas e caos –

Na manhã de quinta-feira, em 11 de março de 2004, milhares de passageiros transitam como todos os dias pela estação de Atocha, no coração de Madri. De repente, três explosões abalam o terminal. O relógio marca 7h37: um trem que entrava na estação vindo de Alcalá de Henares, acaba de explodir.

O impacto das explosões projeta centenas de passageiros contra o chão e as paredes dos vagões. Envolvidos por uma nuvem de fumaça, os sobreviventes tentam sair e alcançar as escadas rolantes, alguns tropeçam na plataforma enquanto tentam se orientar, aturdidos, entre os gritos dos feridos.

Nos quatro minutos seguintes, outras sete bombas explodem não muito longe dali, dentro de três trens que também saíram de Alcalá. Na capital, o caos se mistura com o medo: as emissoras de TV exibem em tempo real depoimentos de passageiros em pânico, os pais, assustados, vão buscar seus filhos nos colégios.

Nos bolsos dos mortos, os celulares não param de tocar. Algumas vítimas, que chegaram a sair da estação em estado de choque, vagarão durante horas pelas ruas da cidade antes de serem atendidas.

– ETA, acusado de forma equivocada –

Horas depois dos ataques, o governo do presidente conservador José María Aznar acusa o grupo separatista basco ETA, autor de diversos atentados fatais em três décadas, de ser o responsável. O ministro do Interior qualifica de “intoxicação” a possibilidade apresentada por alguns especialistas de que poderia ter sido um ataque islamista.

A três dias das eleições legislativas de domingo, 14 de março, a Espanha está em plena campanha eleitoral. O país encontrava-se dividido pela decisão que o governo de Aznar tinha tomado um ano antes de participar da invasão do Iraque junto com as tropas americanas, apesar da oposição da maioria dos espanhóis.

A hipótese do ETA, no entanto, rapidamente perde força. Os investigadores encontram três bombas em mochilas que não explodiram que indicam a pista dos autores, e, na mesma noite, descobrem sete detonadores e uma gravação de versos do Alcorão em uma caminhonete roubada em Alcalá.

Dois dias depois, uma fita de vídeo encontrada perto da mesquita de Madri confirma a pista islamista. Os atentados, em que 192 pessoas de 17 nacionalidades morreram, são reivindicados pela Al Qaeda na Europa em “resposta” à participação da Espanha na guerra do Iraque.

– A direita perde as eleições –

A onda expansiva do 11-M, nome dado ao atentado mais mortal já executado em território espanhol, enfraquece o Partido Popular (PP) de Aznar. Na sexta-feira 12, grandes manifestações reúnem 11,6 milhões de pessoas em todo país.

No domingo, 14 de março, o PP e seu novo líder Mariano Rajoy – escolhido por Aznar como seu sucessor – são derrotados pelo Partido Socialista (PSOE) de José Luis Rodríguez Zapatero, que ordenará rapidamente a retirada das tropas espanholas do Iraque.

Segundo diversos observadores, os eleitores culparam a direita por sua obsessão em acusar o ETA, apesar dos indícios contrários, mas também pela intervenção no Iraque ao lado dos Estados Unidos e Reino Unido, que a opinião pública jamais aceitou.

Durante anos, os líderes da direita continuarão questionando a origem islamista dos atentados, alimentando teorias conspiratórias.

– Longo processo –

Três semanas depois dos atentados, sete membros do comando que colocou as bombas decidem praticar autoimolação com explosivos, quando estavam cercados pela polícia em seu apartamento em Leganés, nos arredores de Madri.

Depois de três anos, outros 29 acusados foram julgados em um longo processo de seis meses, no começo de 2007. Entre eles, vários cidadãos marroquinos moradores de um bairro popular de Madri, mas também espanhóis e um egípcio.

Após o processo e os recursos posteriores, a Justiça espanhola condenou 18 pessoas, três deles a penas muito elevadas de entre 34.715 e 42.924 anos de prisão: Jamal Zougan, Othman el Gnaoui e José Emilio Suárez Trashorras. Apenas eles continuam na prisão, onde devem permanecer até 2044, se nada mudar.

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