A descoberta da organização criminosa que levou à prisão o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), no mês passado, e de sua mulher, Adriana Ancelmo, na terça-feira 6, arrastou para o epicentro do escândalo de corrupção a joalheria H.Stern, uma das mais conhecidas do País. Investigadores da Operação Calicute, um braço da Lava Jato no estado fluminense, sustentam que a grife de luxo se prestou à lavagem de dinheiro público desviado pelo casal ao vender joias caríssimas sem nota fiscal e os devidos recolhimentos de impostos, com pagamentos feitos em dinheiro vivo, o que tipifica a existência de Caixa 2. No total, foram comprados neste esquema de lavagem de recursos ilegais R$ 6,5 milhões em aneis, colares e brincos. Além de jóias da H.Stern, também foram feitas operações com a joalheria Antonio Bernardo.

EM BANGU A ex-primeira-dama Adriana Ancelmo foi presa na terça-feira 6: mochilas com R$ 300 mil eram entregues a ela diariamente

Somente por um conjunto de brincos e um anel, em ouro e rubi, o ex-governador pagou R$ 1 milhão à H.Stern, sem deixar vestígios de compra. “Sérgio Cabral gastou a espantosa quantia com dinheiro oriundo de corrupção e outros ilícitos para presentear a esposa Adriana Ancelmo (….) quando completaram 10 anos de matrimônio”, registra o relatório da Procuradoria Geral da República, sem esconder a perplexidade. Após a divulgação do esquema, a joalheria correu para enviar as devidas notas fiscais e regularizar a situação com o Fisco, mas não vai escapar de uma ampla investigação nos negócios, conforme disse o procurador regional José Augusto Vagos.

Foram comprados neste esquema de recursos ilegais R$ 6,5 milhões em anéis, colares e brincos

PSEUDÔNIMO

Para piorar a situação da grife, três ex-funcionárias declararam à Polícia Federal na semana passada, sob anonimato, que a prática de “caixa 2” existia também para outros clientes. Procurada por ISTOÉ, a H.Stern respondeu que “não falará sobre o assunto devido a uma política interna de confidencialidade.” Já a Antonio Bernardo enviou uma nota na qual diz ter a intenção de pagar as multas e os impostos. Mas, em ação de busca e apreensão determinada pelo delegado federal Tácio Muzzi na empresa, descobriu-se que Cabral era identificado como “Ramos Filho” e Adriana, como “Lurdinha”, o que foi considerado prova de intenção em enganar a lei.