Guterres recebe Lâmpada da Paz e critica distribuição de vacinas

ASSIS, 18 DEZ (ANSA) – A “Lâmpada da Paz de São Francisco” de 2021 foi entregue remotamente neste sábado (18) para o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante cerimônia na Igreja superior da Basílica de São Francisco.   

O representante das Nações Unidas se conectou de Nova York ao evento porque não pôde comparecer presencialmente por precaução devido ao fato de ter entrado em contato com pessoas que testaram positivo para a Covid-19, apesar de seu resultado ter sido negativo. Por isso, Guterres foi representado pelo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Qu Dongyu. A cerimônia também contou com a presença do rei Abdullah II da Jordânia, do presidente da Conferência Episcopal Italiana, cardeal Gualtiero Bassetti, e um representante do governo italiano.   

Segundo o Sacro Covento de Assis, a “Lâmpada da Paz foi entregue ao diplomata português “por seu incansável trabalho de mediação política na complexidade de nosso mundo marcado por tantos conflitos, guerras, injustiças e degradação do ser humano e da criação”.   

“No processo de transformação que se torna ainda mais necessário hoje, a ONU desempenha um papel decisivo como laboratório da paz: é urgente repensar o futuro da nossa casa comum e do nosso projeto comum”, afirma a nota.   

Durante seu discurso online, Guterres afirmou que “um vírus microscópico pôs todo o planeta de joelhos” e “depois de dois anos, podemos ter conseguido vencer a batalha contra a Covid-19, mas não podemos pensar que seja seguro para esta razão”.   

“A pandemia tirou proveito das enormes disparidades no planeta.   

Os desequilíbrios econômicos permitiram que isso se espalhasse como um incêndio em países e entre as comunidades mais pobres”, acrescentou.   

Para o secretário-geral da ONU, “as desigualdades no acesso às vacinas têm permitido que o vírus continue a sofrer mutações, talvez em variantes mais facilmente transmissíveis e agressivas”.   

Durante o reconhecimento, Guterres lembrou que, “no nível financeiro, a divisão global aprisiona os países mais pobres na armadilha da dívida, enquanto os países ricos investem em uma forte recuperação”.   

“Mesmo antes de a pandemia estourar, as pessoas estavam perdendo a fé nas instituições e nas seus representantes. Hoje estamos testemunhando a disseminação da alienação e do cinismo em relação a líderes e elites que não protegeram seus cidadãos e agiram no melhor interesse coletivo”, criticou.   

Por fim, Guterres enfatizou que “São Francisco de Assis foi um verdadeiro visionário, cuja ideia holística da paz continua tão válida hoje como o era no seu tempo, há 800 anos”.   

“O padroeiro da ecologia tem muito a nos ensinar sobre a reconciliação do homem com a natureza”, frisou ele, explicando que “nosso modelo de produção insustentável e nossos hábitos consumistas estão causando uma tripla crise planetária, que se manifesta nos desequilíbrios climáticos, na perda catastrófica da biodiversidade e nos níveis de poluição que matam milhões de pessoas todos os anos”.   

De acordo com o português, “a tripla crise planetária requer ação imediata de todos: governos, organizações internacionais, empresas, cidades, indivíduos”. “Precisamos de solidariedade global, não apenas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 45 por cento até 2030, mas para apoiar as comunidades e os países que lutam sob o impacto desta crise”, concluiu.   

Além de Guterres, o reconhecimento também já foi atribuído ao ex-presidente da Colômbia Juan Manuel Santos; a chanceler alemã Angela Merkel e ao presidente da Itália, Sergio Mattarella.   

A cerimônia hoje ocorreu paralelamente à gravação do concerto de Natal, que será transmitido pela Rai1 no próximo sábado (25). (ANSA)