O secretário-geral da ONU, António Guterres, propôs reduzir cerca de 15% do orçamento de 2026 da organização, que enfrenta restrições crônicas agravadas agora pelas políticas do presidente dos EUA, Donald Trump.
O corte inclui eliminar mais de 2.500 postos de trabalho.
No segundo trimestre do ano, Guterres havia apresentado aos Estados-membros um orçamento de aproximadamente 3,7 bilhões de dólares (19,6 de bilhões de reais) para 2026, similar ao de 2025.
Mas em duas cartas publicadas nesta terça-feira (16), anunciou aos países-membros e ao pessoal da ONU uma redução de “mais de 15% do orçamento ordinário”, ou aproximadamente 500 milhões de dólares (2,6 bilhões de reais), e o corte de aproximadamente 19% dos postos financiados com esses recursos orçamentários.
Segundo um alto funcionário da ONU, o orçamento revisado soma 3,2 bilhões de dólares (17,2 bilhões de reais). Isso resultará na eliminação de 2.681 postos.
Em sua carta ao pessoal, o secretário-geral assegura que o impacto será distribuído entre os três pilares da ONU (paz e segurança, direitos humanos e desenvolvimento sustentável), e que certos setores serão particularmente afetados, especialmente os programas de assistência aos países mais pobres.
“Para alguns colegas, essas mudanças podem significar uma realocação para eles e suas famílias”, para outros, uma mudança de cargo, e para “alguns”, uma demissão, também aponta Guterres.
O funcionário consultado mencionou a realocação inicial de pouco mais de 200 pessoas de Genebra e Nova York para cidades mais econômicas, como Nairobi.
A proposta orçamentária será debatida agora pelos Estados-membros, antes da prevista adoção pela Assembleia Geral até o final do ano.
A ONU enfrenta há anos uma crise crônica de liquidez, devido ao fato de que alguns Estados-membros não pagam suas contribuições obrigatórias ao orçamento ordinário na íntegra, e outros não o fazem em tempo hábil.
Por exemplo, os Estados Unidos, o maior contribuinte do orçamento ordinário da ONU (com 22%), acumulavam atrasos de 1,5 bilhão de dólares (quase 8 bilhões de reais) no final de janeiro e não pagaram nada desde o retorno de Trump à Casa Branca, segundo a ONU.
E em 2024, a China, o segundo maior contribuinte da ONU (20%), não pagou suas cotas até o final de dezembro.
A esses problemas de liquidez se somam os temores de cortes de financiamento por parte do governo de Trump.
Muitas agências da ONU já estão sendo afetadas por enormes reduções na ajuda externa dos EUA.
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