Luciano Huck, Angélica e os filhos sobreviveram a um acidente de avião em 2014. Em maio deste ano, completou exatos dez anos de um susto que poderia ter sido fim, mas que virou começo. Desde então, algo mudou e a memória desse dia continua sendo combustível para o presente. E é dessa jornada, construída entre voos internos, meditação e propósito, que nasceu a aproximação com Deepak Chopra, no Uruguai, e que teve alguns relatos publicados pelo jornal O Globo.
Recortei a matéria e só hoje consegui ler. Luciano conta que foi Angélica quem puxou o fio. Que foi ela quem se encheu de fôlego antes. A mulher que o Brasil conheceu sorrindo na TV se tornou a bússola espiritual da família. Alguém que, depois de quase ter tudo interrompido, entendeu que o silêncio podia curar. E nesse novo caminho, eles abriram as portas para a meditação, para a escuta, para a busca por algo maior que não cabe num feed. E foi assim que eles chegaram até Chopra. E com ele vieram alguns FAMOSOS DILEMAS. Em caixa alta mesmo.
Porque não tem como ouvir o que Deepak Chopra diz e sair intacto. Com a serenidade de quem medita três horas por dia e a lucidez de quem passou pela medicina, pela física quântica e pelas tradições espirituais, ele joga luz sobre uma verdade desconfortável: “Temos mentes tribais e capacidades modernas. É uma combinação perigosa.”
Perigosa porque ele evidencia que ainda brigamos como se estivéssemos em cavernas, só que agora com armas digitais. Perigosa porque temos o poder de construir foguetes, mas não conseguimos resolver o básico do convívio humano. E, como Chopra pontua, essa disparidade entre o avanço tecnológico e a estagnação emocional é uma rachadura que pode engolir tudo, se a gente não olhar para dentro.
Luciano, na entrevista, tenta compreender. Tenta traduzir essa visão para um Brasil que pulsa, sangra e ao mesmo tempo sonha. Ele pergunta, escuta, compartilha a própria trajetória. Fala do trauma. Da gratidão. Do aprendizado. E o que toca, ali, não é o discurso do apresentador da Globo. É o homem, o pai, o marido, tentando entender como se vive bem num tempo em que todo mundo parece exausto.
Chopra responde com doçura, mas também com firmeza. Explica que a Inteligência Artificial pode ser uma faca: cura ou mata. Tudo depende da consciência de quem a usa. E propõe um salto evolutivo não só nas máquinas, mas em nós. Que tal usar a IA, essa filha inquieta da nossa criação, para ampliar nossa inteligência espiritual?
“Digital Dharma”, seu novo livro, parte dessa ideia. De que é possível (e urgente) reconectar o mundo tecnológico com o sagrado. Não o sagrado religioso, mas o sagrado da presença. Do silêncio. Do espaço entre um pensamento e outro. Da respiração que acalma. “A forma é impermanente. O sem forma é eterno”, diz ele. E é aí que mora a paz que a família Huck anda tentando cultivar em casa.
A conversa deles me deixou pensando: É estranho como, muitas vezes, só um abalo faz a gente lembrar de viver com mais sentido.
Quantas vezes temos seguido no piloto automático, buscando emoções ao rolar um feed que nunca sacia? Quanta gente conhecemos que acredita que felicidade é performance, e não presença? Deepak diz que a realidade é feita de sensações, e que nosso corpo, nossa mente, nossa dor são apenas projeções temporárias da consciência.
Afinal, não é sobre doutrina ou qualquer fórmula milagrosa. É sobre disposição. Disposição para olhar para dentro quando tudo lá fora parece desabar. É entender que, mesmo em meio ao caos, existe algo que não muda e que pode nos ancorar: a nossa humanidade, a nossa essência, a nossa espiritualidade. No fim das contas, o famoso dilema é esse: a gente vai usar tudo isso que está à disposição, as telas, os algoritmos, os dados, a inteligência artificial, para acelerar o colapso? Ou para evoluir junto?
A escolha é minha. E escolha é da família Huck. E a escolha também é sua.