VERONA, 27 SET (ANSA) – Luca Morisi, ex-responsável pela estratégia do líder de extrema direita Matteo Salvini nas redes sociais, virou alvo de uma investigação na Itália por suposta cessão de drogas.   

A notícia chega três dias depois de Morisi, um dos aliados mais próximos do senador, ter anunciado sua saída do cargo de administrador dos perfis do político e de seu partido, a Liga, nas redes sociais.   

A renúncia de Morisi causou surpresa na Itália, já que ele era responsável pela bem-sucedida estratégia digital de Salvini, que é baseada no uso intensivo de plataformas como Twitter e Facebook para condenar imigrantes e o consumo de drogas.   

Segundo o Ministério Público de Verona, Morisi é investigado por “suposta cessão de substância entorpecente”, cuja natureza ainda é objeto de análises laboratoriais. Além disso, foi encontrada em sua casa uma pequena quantidade de cocaína compatível com uso pessoal, o que configuraria apenas um delito administrativo.   

O inquérito nasceu após três jovens parados pela polícia com narcóticos em um carro terem dito que a substância havia sido fornecida por Morisi.   

Em sua página no Facebook, Salvini, que sempre empregou tons duros contra usuários de drogas, disse que Morisi “fez mais mal a si mesmo do que aos outros”. “Amizade e lealdade são a vida para mim. Quero você bem, meu amigo, pode contar comigo sempre”, escreveu.   

Já Morisi negou ter cometido qualquer crime, mas pediu desculpas a Salvini e à Liga por suas “fraquezas”. “O episódio pessoal que me diz respeito representa uma grave queda como homem. É um momento muito doloroso da minha vida e que revela fragilidades existenciais não resolvidas”, disse o estrategista, de acordo com comunicado do partido de extrema direita.   

No início de 2020, durante uma campanha para eleições regionais na Itália, Salvini chegou a interfonar para o apartamento de uma família de tunisianos em Bolonha, na frente de câmeras de TV e com transmissão ao vivo no Facebook, para perguntar se um pai e seu filho traficavam drogas, embora não houvesse nenhuma investigação contra eles.   

“Quem agora vai interfonar para a casa de Salvini? Que jogue a primeira pedra quem não tem pecados. A fragilidade é parte do ser humano, já os insultos de bar nos impedem de enfrentar os problemas reais do país”, criticou a ministra das Políticas Juvenis da Itália, Fabiana Dadone.   

Morisi trabalhava com Salvini desde 2013 e é tido como responsável por impulsionar a presença do senador nas redes sociais. Também é atribuída a ele a ideia de apelidar o senador como “capitão”.   

O sistema de gestão das redes sociais e de análise de dados implantado por Morisi é chamado pelos jornais italianos de “La Bestia” (“A Fera”) por causa do estilo agressivo das postagens.   

Além de estigmatizar imigrantes sem documentos, essa estratégia inclui a abertura da vida privada de Salvini para seus seguidores, com recorrentes fotos de suas refeições e com seus filhos. (ANSA).