O futebol sempre reserva histórias de “cinderela” e, na atual Copa Africana de Nações, não é diferente. A Guiné Equatorial, que ocupa apenas a 114ª posição do ranking da Fifa, é uma das sensações da competição ao bater a favorita Argélia ainda na fase de grupos, que estava invicta há 35 partidas, e se classificar às quartas de final. A seleção conta com uma legião de 15 jogadores nascidos na Espanha. Todos têm pais ou mães nascidos no país africano, que foi colônia do império espanhol e é o único do continente a ter o idioma como oficial.

Se participar da Copa Africana já era um feito histórico para a Nzalang Nacional, apelido da seleção que significa “Trovão Nacional”, derrotar a Argélia era um objetivo bastante complicado. A inesperada vitória por 1 a 0 na segunda rodada levou centenas de pessoas a comemorarem nas ruas da capital Malabo.

“Não sei explicar o que senti quando vencemos a Argélia. Foi uma grande honra fazer isso com esse time. Eles achavam que éramos um time inferior, mas mostramos que na África não existe isso. Estou muito orgulhoso da minha equipe e dos meus jogadores, o trabalho e o mérito da vitória são deles”, disse ao jornal Marca o técnico Juan Micha, nascido no país e que encerrou uma sequência de vários treinadores estrangeiros no cargo.

Essa é a primeira participação da Guiné Equatorial na Copa Africana por mérito esportivo. Nas outras duas vezes, esteve presente no torneio por ser país-sede. Em 2012, parou nas quartas de final e, três anos depois, ficou com o quarto lugar. Na edição de 2015, também contava com 15 atletas nascidos em solo espanhol.

A própria ida à Copa Africana foi histórica e igualmente dramática. No último minuto da partida decisiva contra a Tanzânia, o capitão Emilio Nsue marcou o gol da vitória que classificou o país. Aos 32 anos, Nsue, cujo pai nasceu na Guiné Equatorial, é um dos 15 jogadores nascidos na Espanha. Um dos principais jogadores da seleção e o atleta com maior rodagem no futebol europeu, ele está sem clube há seis meses desde que deixou o Apoel, do Chipre.

Nascido em Mallorca, Nsue atuou em todas as seleções de base da Espanha, mas se viu sem oportunidades na equipe principal. Em 2012, recusou convite da federação da Guiné Equatorial para atuar pela seleção do país, mas no ano seguinte mudou de ideia.

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Apesar de ser capitão e destaque da equipe, quase virou vilão justamente nas oitavas de final. Após empate em 0 a 0 com Mali, a partida foi para os pênaltis e Nsue desperdiçou sua cobrança. Ele acabou salvo pelo jovem goleiro Jesús Owono, de apenas 20 anos, que defendeu o último chute de Mali. “Somos um país pequeno. Não temos uma estrela. A estrela é o time”, disse o meio-campista Pablo Ganet após a classificação às quartas de final.

A Guiné Equatorial, localizada na costa oeste da África Central, foi colonizada por Portugal a partir de 1472 quando o explorador Fernando Pó, que estava a caminho da Índia, tomou a ilha de Bioko. Em 1778, Espanha e Portugal assinaram o Tratado de El Pardo, pacto entre as partes que selou a troca de alguns territórios.

A Guiné Equatorial só conquistou sua independência dos espanhóis em 1968. O processo de independência dos países africanos iniciado nos anos de 1950 se deve muito à mobilização dos próprios povos de buscar a libertação diante da colonização imposta pelos europeus, além de outros motivos de política interna que intensificaram suas políticas de descolonização.

Nas quartas de final da Copa Africana, a Guiné Equatorial terá pela frente outra favorita ao título da Copa Africana. A seleção enfrenta Senegal, de Sadio Mané, destaque do Liverpool, neste domingo, às 16h. “A Guiné Equatorial é a Cinderela da competição”, disse o ex-jogador da seleção Juvenal Edjogo à BBC Sport África.


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