02/12/2024 - 4:00
O líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), afirmou que a comunicação do PT está ultrapassada, classificando-a como “analógica”, e apontou um distanciamento entre o comando da legenda e sua militância. Em entrevista ao site IstoÉ, ele admitiu interesse em pleitear a sucessão de Gleisi Hoffmann (PR) nas eleições internas de 2025.
Guimarães reconhece o desafio na reconstrução do partido e prega cautela para fortalecer a legenda. Ele também defende uma reconexão entre a cúpula petista e sua militância, além de maior valorização das novas lideranças.
“O partido está em reconstrução, e isso está sendo feito com calma. O PT tem que se reconectar com a sua base e com o país real. O jeito de fazer isso é melhorando, enfrentando o advento da comunicação, que hoje é muito grave. Nós ainda estamos no sistema analógico. Todo mundo sabe disso, e nós temos que melhorar bastante isso”, afirmou.
“Essa militância precisa ter espaço no PT. Surgiram muitas lideranças novas. Por exemplo, eu cito o Nordeste: a menina de Natal [Natália Bonavides] quase ganhou a eleição, o menino de Teresina [Fábio Novo] quase ganhou a eleição, e, em Fortaleza, o Evandro [Leitão]. Então, surgiu um time novo no PT que nós temos que valorizar”, completou.
O nome de Guimarães para a presidência do partido ganhou força após ele ter emplacado Evandro Leitão (PT) na prefeitura de Fortaleza nas eleições deste ano. Leitão enfrentou André Fernandes (PL) e conseguiu vencer por uma margem apertada.
A indicação do cearense é defendida pela cúpula nordestina do partido, além da própria Gleisi Hoffmann, atual presidente do PT. Contudo, ele é preterido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus aliados mais próximos, como José Dirceu, que defendem o prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Edinho não conseguiu fazer sua sucessora, sofrendo derrota em um dos principais redutos petistas no estado de São Paulo.
José Guimarães minimiza a disputa com Edinho e afirma estar dialogando com a base e com Gleisi para encontrar o melhor caminho para o partido.
“Tem muitas coisas que precisam ser revistas dentro do PT, e acho que uma das coisas fundamentais na nova direção do PT, primeiro, é a identidade que ele tem com os programas do governo. Segundo, compor uma direção que dialogue com o país e com a base do PT.”
“É claro que tem alguns companheiros que defendem muito que a presidenta Gleisi coordene o processo, e ela está dialogando comigo. Na hora certa, nós vamos bater o martelo. O que todo mundo sabe é do meu compromisso com o PT.”
Nas eleições deste ano, o PT conquistou 252 prefeituras e 3.118 vereadores. Esses números superaram os de 2020, quando a legenda teve apenas 183 prefeitos entre os mais de 5 mil municípios do país.
Apesar do crescimento, os resultados ficaram aquém do esperado pelos petistas, que perderam espaço para o Centrão, protagonista nas eleições deste ano, e para a Direita. Esse cenário deixa o PT em alerta, uma vez que dependerá de partidos como PSD, MDB e União Brasil para viabilizar a reeleição de Lula nas próximas eleições.
Guimarães defende que o partido mantenha sua essência e não se transforme em uma legenda de centro-esquerda. Ele admite, porém, a necessidade de alianças com partidos da base do governo para consolidar um possível quarto mandato de Lula.
“O PT tem que defender seu lado e ser como é, se reconectando com o país e com a nossa base… Fazer uma aliança, agregar o centro para 2026. Não é o PT ir para o centro, não concordo com isso. O PT tem que ser o partido que é: um partido de esquerda. E faz aliança com o centro para governar. É isso que nós vamos fazer com o presidente Lula em 2026”, disse.
Nos últimos anos, a militância tem criticado o afastamento do partido das pautas dos trabalhadores, o que classificam como “sem sentido”. Para correligionários, o PT precisa se atualizar aos novos formatos de trabalho e garantir direitos que ofereçam estabilidade a pessoas jurídicas.
José Guimarães concorda com a necessidade de intensificar os debates sobre os métodos de trabalho e reconhece que o “chão de fábrica” encolheu. No entanto, ele afirma ainda não ter uma solução pronta para o setor.
“Esse novo mundo do trabalho, nós precisamos debater também. Aí é um problema do governo. O Brasil, a economia brasileira, é outra. O PT nasceu do chão da fábrica. O chão da fábrica encolheu. E hoje vivemos em outro mundo. Então, o PT tem que discutir isso. Eu não tenho receita para isso”, completou.