O escritor João Guimarães Rosa (1908-1967) ficou célebre por criar neologismos. Sua obra – um romance e sete coleções de histórias – é repleta de expressões baseadas em termos regionais mineiros, que converteu em literatura. Por desconfiar da ortografia oficial, deu o seguinte recado ao editor José Olympio no exemplar da terceira edição de seu primeiro livro, “Sagarana” (1946): “Observar religiosamente a ortografia do original”. Com a morte do autor e três reformas ortográficas — 1971, 1990 e 2009 —, a exigência foi ignorada. Para marcar os 50 anos da morte de Rosa, a edição de sua “Ficção Completa” (Nova Fronteira) corrige erros e resgata termos apagados das edições anteriores, como “dansa” e variantes para a expressão “à toa”. “A ortografia foi modificada com a aprovação da família do autor, sem descaracterizar sua construção artística”, diz a editora Janaína Senna. Mesmo assim, segundo ela, ainda é necessário uma edição crítica da obra para que se possa cumprir integralmente o desejo de Rosa. Não há prazo para o trabalho começar.