O último relatório global sobre mudanças climáticas foi classificado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, como um “alerta vermelho”. O tom apocalíptico do documento não deveria surpreendê-lo. Afinal, uma garota sueca, de 15 anos, já havia lhe informado a situação catastrófica em dezembro de 2018.

Greta Thunberg é tema do documentário “Meu Nome é Greta”, disponível na plataforma Disney+. Dirigido por Nathan Grossman, conta a história da ativista sueca que começou a chamar a atenção do mundo em agosto de 2018, quando passava as sextas-feiras sentada na calçada em frente ao parlamento da Suécia com a placa “greve escolar pelo clima”. O protesto solitário da garota de longas tranças repercutiu entre os alunos e alertou a mídia. Greta começou a aparecer na TV e sua causa inspirou outros jovens a amplificar a mensagem por meio das redes sociais. Em pouco tempo, as “sextas-feiras pelo futuro” se espalharam na Europa e chegaram aos EUA.

Como tudo na era digital, o marketing foi fundamental para tornar Greta uma personagem global. Seu rosto sério, a emoção ao falar do tema e a capacidade de se expressar bem em inglês – sua língua natal é o sueco – fizeram com que os jovens se identificassem. Outra característica a marcou: a síndrome de Asperger, enfermidade do espectro autista. “Meu cérebro funciona de um jeito diferente. Vejo as coisas em preto e branco, baseadas na lógica”, afirma Greta. Seu pai, Svante Thunberg, diz que a condição já lhe trouxe problemas, entre eles o “mutismo seletivo”, longos períodos em que ela fica totalmente muda. Por outro lado, permite que ela memorize livros e relatórios inteiros, característica que a ajuda na elaboração de seus contundentes discursos.

Justiça climática

A primeira celebridade a publicar elogios a Greta nas redes sociais foi Arnold Schwarzenegger, ator e ex-governador da Califórnia. Legitimada pelo astro do cinema, ela ampliou seu ativismo e passou a pressionar os políticos suecos para que assinassem o Acordo de Paris, tratado que limita as emissões de poluentes. A ONU viu o seu potencial e a convidou para discursar em uma conferência sobre o clima.

Ao colocar a culpa nos políticos, Greta expõe o choque geracional que une a juventude na defesa da bandeira do meio ambiente. Inspiradas por ela, milhares de pessoas têm saído às ruas para protestar em todo o mundo. Greta tornou-se o maior símbolo da luta pela “Justiça Climática”. Desde então, já foi recebida por presidentes, chefes de Estado e até pelo papa Francisco.

Também virou alvo dos negacionistas do clima, liderados por Donald Trump, Vladimir Putin e Jair Bolsonaro. Greta segue um modo de vida radicalmente sustentável: é vegana, não compra roupas novas e só anda de carro elétrico. Quando a ONU a convidou para discursar na Conferência do Clima, em Nova York, ela decidiu cruzar o Oceano Atlântico em um veleiro movido à energia solar – “combustível de avião é muito poluente”, alegou, ao desembarcar quinze dias depois. Aplaudida de pé, a ativista não precisa mais repetir a frase “Meu nome é Greta”, como costumava se apresentar. Hoje, o planeta inteiro sabe bem quem ela é.