A guerra entre Rússia e Ucrânia ganhou um novo capítulo nesta terça-feira, 11. Representantes dos Estados Unidos e do país comandado por Volodimir Zelensky se reuniram em Jidá, na Arábia Saudita, para discutir possíveis avanços nos acordos de paz – algo que foi parcialmente atingido com a aceitação do cessar-fogo pelo governo ucraniano.
A proposta estadunidense é de interromper o conflito ao longo de, pelo menos, 30 dias. Além de aceitar a sugestão, os ucranianos também se comprometeram a promover atitudes em prol de uma paz duradoura. O conselheiro de segurança nacional dos EUA, Mike Waltz, ainda deve conversar com representantes russos para verificar se o acordo será realmente selado.
Esse foi o primeiro encontro de autoridades estadunidenses e ucranianas desde o atrito público entre os presidentes Donald Trump e Zelensky, ocorrido em 28 de fevereiro, no Salão Oval da Casa Branca. A postura dos EUA, especialmente com a gestão do republicano, tem sido motivo de preocupações para Kiev, que depende do auxílio internacional para suceder no conflito.
Alberto Pfeifer, coordenador do grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP (Universidade de São Paulo), explicou à IstoÉ que o comportamento ucraniano evidencia uma certa complacência no que diz respeito aos trâmites do combate.
“A aceitação por parte da Ucrânia dos termos propostos de cessar-fogo indicam sua resignação quanto ao estado atual do conflito – ou seja, a Ucrânia entende que não conseguirá melhorar sua posição negocial e, portanto, prefere o término das hostilidades, mesmo que de modo provisório, para iniciar conversações de paz”, disse.
Zelensky havia chegado no país saudita na última segunda-feira, 10, e – às vésperas das negociações – disse que a Rússia era a “única razão” pela qual a guerra continuava. Em consonância, nesta terça-feira, a representante da União Europeia, Kaja Kallas, acusou a Rússia de ser a “única responsável pela guerra na Ucrânia” durante um encontro do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Apesar de estar na Arábia Saudita, o presidente Volodimir Zelensky não participou da reunião com os representantes norte-americanos. Após a deliberação, ele elogiou o tratado e mostrou-se satisfeito. A resposta das autoridades russas, desse modo, é aguardada com grande expectativa pelos analistas internacionais – e até Donald Trump, que disse esperar que a Rússia oficialize o pacto.
“Certamente, a aceitação por parte da Rússia indicaria uma mudança. Porque com o cessar-fogo, com negociações, as pretensões de ambos os lados partem do estado atual de ganhos e perdas, das posições no terreno e das condições atuais de capacidade de beligerância”, indicou o coordenador.
Influência dos EUA
A conversa entre americanos e ucranianos também rendeu outras discussões associadas à guerra, como o fornecimento de serviços e acordos de exploração mineral. Os EUA divulgaram que voltarão a oferecer compartilhamento de informações de inteligência e assistência de segurança ao país de Zelensky.
O compartilhamento de informação é o que permite eficácia e uso dos armamentos de maneira precisa e, por isso, é essencial para o bom engajamento das tropas e da capacidade militar ucraniana. Alberto ressalta, porém, que a ação é como “tirar as cartas das mãos de Zelensky e recolocá-las de volta um tempo depois”, já que o compartilhamento havia sido temporariamente suspendido desde a última quarta-feira, 5.
“Isso significa, na mesa de negociação, que essas cartas podem ser retiradas novamente. Eu diria que é uma pressão no Zelensky para ele aceitar termos de desengajamento, termos para a paz. Foi mais uma mensagem para o próprio Zelensky do que para os russos”, analisou ele.
Segundo Alberto, a postura do líder estadunidense dá à Ucrânia meios de se defender, mas não de fazer avanços ou causar dano para os russos. Essa seria uma forma de Trump alertar Zelensky sobre a necessidade de aceitar a paz nos termos que ela for negociada.
Em adição, os dois países pretendem finalizar, com maior velocidade possível, o tratado para a exploração dos recursos minerais ucranianos – algo que, de acordo com Alberto, traz os EUA para o centro da conflituosidade.
“O possível acordo aumenta a vinculação entre Ucrânia e EUA, assegurando interesse real dos americanos em território ucraniano – portanto, maior vinculação dos EUA a proteger a Ucrânia”, pontuou.
Em suma, uma vez interessados nos recursos naturais presentes na Ucrânia, os Estados Unidos assumem a intenção de garantir proteção à terra, com presença física e investimentos – o que configura maior custo para Rússia ao atacar as respectivas regiões.