A guerra na Ucrânia está em um “ponto de inflexão”, afirmou nesta terça-feira (12) o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, que expôs os “riscos concretos” de uma vitória russa durante um tenso debate parlamentar sobre a estratégia do presidente Emmanuel Macron.

No final de fevereiro, o presidente gerou uma controvérsia nacional e internacional ao não descartar o envio de tropas à Ucrânia, dias depois de assinar um acordo de segurança com Kiev que a Assembleia Nacional francesa (Câmara baixa) apoiou nesta terça-feira.

Para esclarecer sua posição, o governo convocou um debate no Parlamento seguido por esta votação não vinculativa, especialmente quando o apoio financeiro e militar à Ucrânia está diminuindo na opinião pública e uma maioria de franceses é contra o envio de tropas, de acordo com as pesquisas.

“Estamos em um ponto de inflexão” no conflito entre Rússia e Ucrânia, alertou Attal aos deputados, reiterando a posição de Macron de que a França não estabelece “nenhum limite diante de uma Rússia que também não o faz”.

O chefe de governo, de 34 anos, afirmou que em caso de uma vitória russa existem “riscos concretos” para a “vida cotidiana” dos franceses, como “uma inflação alimentar dez vezes maior, uma explosão nos preços da energia dez vezes maior”.

“Votar contra” o apoio à Ucrânia significa que a França “vira as costas” para sua história, “abster-se é fugir”, colocou para a oposição. Após o debate tenso, 372 deputados votaram a favor do acordo de segurança e 99 votaram contra.

Embora com críticas à estratégia, socialistas, ecologistas e o partido de direita Os Republicanos uniram seus votos aos do governo, enquanto comunistas e o A França Insubmissa (LFI, extrema esquerda) votaram contra.

O principal partido de oposição, a Agrupação Nacional (RN) de extrema direita, decidiu se abster e sua líder Marine Le Pen aproveitou o debate para atacar as “declarações de guerra” sobre o envio de tropas, que preocupam “milhões de franceses” e “tranquilizaram” o presidente russo, Vladimir Putin.

A menos de três meses das eleições para o Parlamento Europeu, nas quais o partido RN é favorito na França segundo as pesquisas, a oposição denunciou as “táticas eleitorais” de Macron de tentar colocar a guerra na Ucrânia no centro do debate.

“Ou você é pró-Macron ou o acusam de ser pró-Putin. Sua atitude é desprezível, porque o sofrimento na Ucrânia, que vocês tentam aproveitar, é muito vivo”, afirmou Le Pen, a quem seus detratores apresentam como próxima ao presidente russo.

O Senado deve se pronunciar sobre o acordo na quarta-feira. O presidente francês falará “sobre o apoio da França à Ucrânia” na quinta-feira às 20h00 do horário local (16h00 de Brasília) durante uma entrevista às emissoras TF1 e France 2.

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