“Quem não se comunica, se trumbica”, dizia Abelardo Barbosa, o Chacrinha, velho guerreiro da TV Globo, morto em 1988, mas cujas célebres frases continuam marcando a comunicação brasileira. Seguindo esse ensinamento, os treze candidatos a presidente finalizaram esta semana a formulação de suas estratégias para o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, que vai ao ar a partir do próximo dia 31. Ao lado das postagens que propagarão aos borbotões nas redes sociais, as mensagens na TV serão fundamentais para vencer as eleições de outubro. Na guerra de caça aos votos dos 144 milhões de eleitores, cada um tentará vender seu peixe para atrair a atenção do eleitor, mesmo que para isso seja preciso pegar pesado contra os adversários. Essas táticas que destilarão na TV são metodicamente estudadas pelos marqueteiros, que vendem seus candidatos como se fossem sabão em pó, mostrando que o seu produto lava mais do que o do antagonista. Na campanha, será impossível não ver o tucano Geraldo Alckmin em ação. Ele vai dominar a cena, com quase 6 minutos do total de 12m30s do horário eleitoral, tempo que ele vai usar para apresentar seus projetos, mas também para traçar seu objetivo de chegar ao segundo turno. Ele decidiu que seu alvo preferencial será Jair Bolsonaro (PSL) – ex-capitão, que hoje lidera as pesquisas, e que terá só 9s, “quase o tempo de um Enéas”.

Alckmin não esconde que vai direcionar suas baterias contra Bolsonaro. Mas a idéia é se valer dos filmetes para esse fim, ou seja, aqueles comerciais rápidos de 30 segundos. Para tentar desconstruir o candidato do PSL, serão usados locutores em off, destacando depoimentos e trechos de discursos em que ele critica as mulheres e, sobretudo, expondo seus “deslizes éticos”, como receber auxílio-moradia da Câmara, mesmo tendo apartamento em Brasília. Já nos programas propriamente ditos do horário eleitoral, Alckmin se dedicará a expor suas propostas. “Tudo o que não queremos é que ele peça direito de resposta ao Geraldo. Queremos que ele fique confinado nos 9 segundos dele”, disse um dirigente tucano. Nos primeiros programas, já gravados em Pindamonhangaba no último final de semana, Alckmin aparecerá ao lado dos parentes. Sua mulher Lu terá destaque especial. Na sua biografia política, haverá grande espaço para sua ação como gestor.

Com míseros 9s de programa e um comercial de 30s por dia, Bolsonaro vai se dedicar a defender a Lava Jato. Vídeos já foram gravados de seu apartamento no Rio. O tripé de seu discurso incluirá, além da Lava Jato, a defesa da família e da revogação do Estatuto do Desarmamento. Não falará de saúde e educação e nem atacará adversários. Já Ciro Gomes, dono de língua venenosa, pretende fazer uma campanha “altamente prepositiva”, conforme adiantam seus auxiliares. Com pouco tempo de TV (cerca de 35s no horário eleitoral e 3 comerciais de 30 segundos cada diariamente), o ex-governador do Ceará vai focar suas atenções, principalmente, em propostas na área de saúde, emprego, geração de renda e educação. O candidato do Podemos, Alvaro Dias, que, além do horário gratuito, terá 3 comerciais por dia, vai adotar como slogan “Alvaro Dias fala e faz”, pretendendo gastar a maior parte de seu tempo explicando como fará a “refundação da República”, seu principal mote. Dias se apresentará com a imagem de bom congressista e de gestor competente quando governou o Paraná, Estado por onde se reelegeu senador em 2014 com quase 80% dos votos.

A candidata Marina Silva, antes fadada a ficar só com 8s na TV, conseguiu ampliar esse tempo ao se coligar com o PV. O marqueteiro Lourenço Bustani, dono da Agência Mandala, embora não seja filiado à Rede, trabalhará de forma voluntária. Nos primeiros programas ela deverá explorar sua trajetória, mostrando que venceu na vida apesar das dificuldades. Marina, assim como Álvaro, Ciro e Bolsonaro terão pouco dinheiro para contratar marqueteiros a peso de ouro. Uma das exceções será Henrique Meirelles (MDB). O ex-ministro da Fazenda declarou ser dono de uma fortuna de R$ 377 milhões, o que lhe permitirá bancar a estrutura de campanha. Assim, Meirelles contratou o marqueteiro Chico Mendez, que terá o desafio de torná-lo mais conhecido. Por isso, os primeiros programas o apresentarão com o slogan “Chama o Meirelles”, ao explicar que ele foi chamado para salvar a economia de dois governos distintos – Lula e Temer.

Forró, xote e baião

Meirelles usará um jingle que foi testado na convenção que aprovou sua candidatura: “Quando tem fogo, você chama o bombeiro/ Quando tem dor, você chama o doutor/Mas quando você quer a esperança de volta/Chama o Meirelles que ela bate à sua porta”, ao som de moda de viola, música típica de Goiás, seu estado natal. A maioria dos candidatos, contudo, usará jingles com músicas nordestinas, como forró, xote e baião, na tentativa de atrair os eleitores do Nordeste. O jingle de Ciro será apresentado por um grupo tradicional de forró do Ceará, seu estado. O mote da campanha “Muda Brasil”, de Bolsonaro, que aparecerá com chapéu de couro nordestino, começará com o som de um triângulo para embalar a letra composta pelos paraibanos Lucas Salles e Dinarte Nóbrega. O tucano Alckmin é que vai destoar um pouco: para animar o slogan “Geraldo eu vou” haverá música gospel, usando teclado e coral. Resta saber agora se toda essa parafernália tecnológica na TV vai alterar o voto dos eleitores.

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