A série israelense Fauda, um sucesso internacional, teve sua terceira temporada situada em Gaza, com um sequestro como parte da história que, por fim, foi superado pela realidade, constata o criador da série, Avi Issacharoff.

Distribuída pela Netflix nos últimos anos, Fauda (“caos” em árabe) conquistou o público para além das fronteiras de Israel, apresentando aos espectadores a complexidade do conflito israelense-palestino por meio da luta entre uma unidade de agentes israelenses infiltrados e um líder do Hamas em fuga.

No sábado, a equipe da série compartilhou uma realidade que ultrapassa qualquer ficção: “estamos totalmente arrasados em anunciar que um dos membros da família de Fauda, Matan Meir, foi morto durante uma operação em Gaza”, publicaram na conta do programa no Instagram.

“Matan participou da segunda e terceira temporadas”, contou Issacharoff durante entrevista à AFP. Meir, que era responsável pela organização das filmagens, era “muito positivo” e “sempre disposto a ajudar”, lembrou.

O produtor e soldado reservista de 38 anos morreu na sexta-feira à noite junto com outros quatro soldados em uma operação militar no norte da Faixa da Gaza, onde as tropas israelenses combatem o movimento islamista Hamas, indicou o exército.

“Não vemos o fim, vivemos os piores momentos da história deste país”, declarou um dos diretores da série, Rotem Shamir, durante o enterro de Meir. Seis colegas de sua unidade carregaram o caixão.

Outro integrante da equipe, o ator Idan Amedi (que interpreta Sagui), publicou em 12 de outubro na rede social X (antigo Twitter) um vídeo em que aparece com uniforme militar, após ser convocado como reservista, no qual dizia: “isso não é uma cena de Fauda, é a vida real”.

A brutal representação do dia a dia de israelenses e palestinos tornou a série muito popular, ao narrar as onipresentes restrições relacionadas à segurança, os atentados e as operações noturnas do exército em áreas palestinas.

– “Sou pessimista” –

Apesar dos aparentes paralelos entre a ficção e a guerra de Israel contra o Hamas, “estamos longe da realidade, pois a realidade é muito mais complicada do que tudo que já escrevemos”, afirmou à AFP Issacharoff, coautor da série e jornalista.

A terceira temporada de Fauda se passa na Faixa de Gaza e mostra os confrontos entre palestinos e forças israelenses que tentam libertar dois reféns civis, um roteiro visto como um tanto extremo quando a temporada estreou.

Cerca de 240 pessoas, segundo o Exército israelense, foram sequestradas e levadas como reféns para Gaza durante o ataque do Hamas em 7 de outubro.

“Infelizmente, não imagino nenhuma operação de resgate como as que vemos em nossa ficção para trazer com vida todos os reféns. Sou pessimista”, disse Issacharoff, um veterano crítico das políticas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

De acordo com o criador de Fauda, no dia do ataque do Hamas, ele correu para um abrigo antimísseis. “Logo soubemos que não se tratava só de alguns foguetes, mas sim de uma invasão terrorista”, comentou.

Com Lior Raz, coautor e um dos protagonistas da série (Doron), “fomos no segundo dia para Sderot para tirar os habitantes da cidade da zona de fogo”, relatou. Os dois serviram em unidades das forças especiais usadas como inspiração para Fauda.

Desde o início da guerra, ao menos 11.180 pessoas, a maioria civis, morreram em bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde do Hamas. O sangrento ataque do grupo islamista palestino contra Israel deixou cerca de 1.200 mortos, também sobretudo civis.

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