Guerra em Gaza dá o tom antes de abertura do Festival de Veneza

VENEZA, 27 AGO (ANSA) – Manifestantes com bandeiras da Palestina protestaram diante do Palácio do Cinema, que recebe a partir desta quarta-feira (27) a 82ª edição do Festival de Veneza, uma das principais mostras da sétima arte no mundo.   

Com uma faixa exibindo os dizeres “Palestina livre” e “Chega de genocídio”, um pequeno grupo de ativistas fez uma espécie de antecipação do grande ato convocado para o próximo sábado (30), a partir das 12h (horário de Brasília), que deve incluir até um cortejo aquático pela Lagoa de Veneza.   

“Já há centenas de adesões, inclusive no mundo do cinema”, disse Martina Vergnano, porta-voz de coletivos de esquerda no nordeste da Itália e que participou do protesto desta quarta-feira. Segundo ela, o objetivo é “virar os refletores da mostra para o lado certo”.   

“Estamos diante de um genocídio, e não é mais possível negá-lo. As atrocidades devem ser paradas imediatamente”, acrescentou a ativista.   

A guerra na Faixa de Gaza tem dado o tom dos preparativos finais para o festival, que não terá a presença da atriz israelense Gal Gadot, estrela do filme “In the hand of Dante”, de Julian Schnabel.   

Ativistas também pedem que a mostra retire o convite a outro astro do mesmo longa, o ator escocês Gerard Butler, que já participou de arrecadações de fundos para as Forças de Defesa de Israel (IDF).   

No entanto o diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, defendeu a pluralidade e rechaçou “qualquer forma de censura contra quem quer que seja”. “A nossa posição é que somos a principal instituição cultural italiana, um lugar de abertura, discussão, debate. Por isso, devolvemos ao remetente o pedido de excluir artistas que pretendem se apresentar na mostra de cinema”, disse o italiano em coletiva de imprensa nesta quarta.   

“Por outro lado, nunca hesitamos em expressar e declarar claramente nosso enorme sofrimento diante daquilo que está acontecendo em Gaza e na Palestina”, salientou Barbera, que citou a “morte de civis, sobretudo de crianças”, em ataques israelenses.   

Com a atriz brasileira Fernanda Torres como jurada, o evento será aberto na noite desta quarta-feira, com a exibição de “La grazia”, novo filme do cineasta italiano Paolo Sorrentino e estrelado por seu ator favorito, Toni Servillo, que interpreta um presidente da República em fim de mandato e às voltas com dilemas para decidir sobre dois pedidos de perdão.   

Servillo é um dos signatários de um manifesto de artistas cobrando que a Bienal de Veneza, organizadora do festival, condene o “genocídio” em Gaza de forma clara e inequívoca.   

“O fardo é muito grande para se continuar a viver como antes.   

Há quase dois anos, chegam a nós imagens inequívocas da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Assistimos, incrédulos e impotentes, a um genocídio cometido ao vivo pelo Estado de Israel”, diz o texto enviado pelo grupo “Veneza pela Palestina”.   

O documento é assinado por nomes como o diretor americano Abel Ferrara, os cineastas italianos Alice Rohrwacher, Marco Bellocchio e Matteo Garrone, os atores Alba Rohrwacher, Laura Morante e Valeria Golino e a cantora Fiorella Mannoia. (ANSA).