Por maior que seja o número de profissionais da área de saúde em todo o mundo, foram eles insuficientes diante da avalanche de pacientes de Covid-19. Vale, para tais profissionais, a célebre frase de Winston Churchill em relação aos combatentes britânicos na Segunda Guerra Mundial: “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. Assim, podemos dizer que nunca tantos doentes deveram tanto a tão poucos homens e mulheres de jalecos brancos, azuis ou verdes, de mácaras brancas ou azuis ou verdes, de luvas brancas ou azuis ou verdes, de anteparos transparentes e pesadas roupas hermeticamente fechadas. Trata-se também de uma guerra, porque não há outro nome que possa ser empregado para aquilo que todos que atuam nesse campo vêm travando contra o novo coronavírus. Ao longo de 2020, esses batalhadores estiveram na linha de frente, vivendo momentos dramáticos, muitas vezes fazendo o papel de curador e curadora, cuidador e cuidadora, pai e mãe, irmão e irmã, amigo e amiga, marido e mulher. Aplaudem o doente que sara, mas nunca a si próprios; seguram nas mãos dos agonizantes porque quem parte de Covid não pode se despedir de ninguém devido à transmissão da infecção. Esses soldados das UTIs reescreveram suas vidas no ano que agora acaba.

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O primeiro caso no País deu-se em fevereiro, quando se confirmou a presença do vírus no organismo de um homem que retornara da Itália. Além de lutarem contra a enfermidade, os atores da saúde tiveram de enfrentar no País e nos EUA governantes que promoveram a desinformação. No Brasil, vendo tanto desprezo pelas vidas que tentavam ou conseguiam salvar, por iniciativa dos médicos saiu das UTIs para a Corte de Haia, em julho, uma denúncia contra Jair Bolsonaro. Enquanto médicas e médicos morriam (cerca de 450 no País até meados de dezembro), sete secretários estaduais de Saúde foram presos ou processados por desvio de verba destinada ao combate da doença. Assim se explica o fato de três mil respiradores, do total de sete mil comprados em todo o território nacional, jamais terem chegado ao destino. De volta à integridade dos profissionais, não somente no Brasil, mas, também, em todo o restante do mundo, o que se viu, e novamente se vê com as segunda e terceira ondas do vírus, são cuidadores passando dias e noites debruçados sobre leitos em hospitais já existentes ou de campanha.

Na Alemanha, na primeira fase da pandemia, tal era perfeita a estrutura hospitalar que respiradores foram emprestados a outros países. Aqui, eles faltaram. Em todo o mundo, no entanto, e inclua-se o Brasil, o que não fatou foi dedicação. E ficará para sempre na história o incansável trabalho das equipes médicas. E, com certeza, em suas retinas profissionais ficarão as retinas de pavor daqueles que morreram olhando atônitos para eles.

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