Respondendo a essa pergunta do título deste artigo, ninguém ganha com o ministro da Economia sendo mantido no cargo, à exceção de Bolsonaro. Todo mundo perde, como vem perdendo desde quando ele assumiu a função nos tempos que ainda o chamavam de sabichão, o Posto Ipiranga do presidente, confessamente inepto para assuntos econômicos. De lá para cá, o Brasil ficou mais pobre, caiu da oitava para a décima terceira posição e 20 milhões de miseráveis surgiram, com o País voltando ao mapa da fome. Pois bem, Guedes assumiu com a auréola de liberal, um economista que iria colocar o País nos trilhos, que privatizaria tudo o que fosse possível, reduziria o tamanho do Estado, arrumaria dinheiro junto à iniciativa privada para propiciar investimentos vultosos nos setores carentes de investimentos, como a infraestrutura. O objetivo era reduzir as desigualdades e retomar o crescimento sustentável. Só recebeu aplausos e vivas. Era o que todos queriam.

No papel, esse era um maravilhoso projeto. Mas, o que fez o ex-todo poderoso de Chicago? Nada. Ou pior, fez muitas asneiras. Junto com Bolsonaro, está destruindo o Brasil. Enquanto o presidente destrói a saúde, a educação, o meio ambiente, a cultura, a ciência, as relações exteriores, os direitos humanos (não precisamos dar os dados, porque só as 610 mil mortes pela pandemia já explicam tudo). Enfim, o País inteiro está se esfacelando nas mãos desse incapaz mandatário.

Já Guedes, que estudou lá fora a vida toda, leu inúmeros livros (mas não entendeu nada da vida real), mina a economia e a joga no patamar dos países pobres (adeus grupo dos emergentes, dos Brics, etc.) e sem perspectivas de futuro, embora tenhamos potencial para estar entre as 10 maiores e mais respeitáveis do mundo. Com a dupla Bolsonaro/Guedes, estamos caminhando na direção do abismo, como veremos a seguir, em rápidas pinceladas.
O Brasil de Gudes nada privatizou e até o empresário Salim Mattar, que foi para o governo para fazer dinheiro vendendo os bens públicos, saiu frustrado da equipe do ministro da Economia. Nem a Eletrobrás se vendeu, mesmo com o projeto de autorização da venda sendo aprovado no Congresso. Um fracasso. Não se vendeu os Correios, os aeroportos, nada do que foi prometido. Nem um palito de fósforos da Granja do Torto, onde o ministro mora de graça (antes era a moradia do vice-presidente e nos tempos de Lula era lá que ele fazia churrascos para a sua turba),foi vendido.

Em suma, nada foi privatizado e, agora, a dupla cara de pau fala em privatizar a Petrobras para reduzir os preços dos derivados do petróleo, que eles, de forma incompetente, não conseguiram resolver, mesmo intervindo na estatal e mudando o presidente em março. Se eles fizerem isso às vésperas das eleições, só para obter mais recursos para torrar na reeleição, será crime de lesa-pátria.

E agora, Guedes/Bolsonaro vêm com a irresponsável proposta de furar o teto de gastos para se obter recursos para a destinação de dinheiro para patrocinar o novo Bolsa Família, rebatizado eleitoreiramente como Auxílio Brasil. Não que os 20 milhões de miseráveis criados por eles não mereçam. Dar-lhes só R$ 400 por mês, inclusive, é uma esmola. Deveriam pelo menos receber R$ 1.000, valor do salário mínimo. Menos, é covardia. Ninguém vive com um valor desses. Com um bujão a R$ 150, um litro de gasolina a R$ 9,00 e um quilo de carne a R$ 60, só cozinhando osso na lenha para ter alguma proteína e não morrer de inanição.

O problema é a fórmula como o dinheiro será repassado aos pobres. O governo não colocou o auxílio no orçamento deste ano e agora vai ter que furar o teto, descontrolando os gastos públicos, gerando mais inflação e maior instabilidade econômica. Ah, é para atender os miseráveis, disseram Guedes/Bolsonaro na sexta-feira, 22. Mas eles não esqueceram de colocar no orçamento secreto R$ 30 bilhões para os parlamentares queimarem no processo pré-eleiotral, para a compra de tratores superfaturados, no chamado “tratoraço”, como o “Estadão” denunciou. Isso eles não esquecem. Rende propinas para um monte de gente. Do povo faminto, só se lembra às vésperas das eleições, como agora. Bolsonaro sabe que do jeito que as coisas caminham não se reelegerá.

E Guedes já entendeu esse jogo. Antes, não aceitava romper o teto e até brigou feio com Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), chamando-o de “ministro fura teto”, somente porque ele queria mais grana para as obras eleitoreiras. Agora, finalmente, Guedes cedeu e entrou de cabeça na reeleição. Salve-se quem puder, porque Bolsonaro vai repetir o desastre de Dilma: tentar se reeleger a qualquer custo, quebrar o País e depois “tchau queridos”. É por isso que Bolsonaro precisa desse dinheiro do novo Bolsa Família e dar aos 8 milhões de famintos nordestinos. Sua tentativa é apenas a de conter o avanço de Lula no seu território.

Resultado dessa política insana: Guedes quase caiu na semana passada. O rompimento do teto de gastos vai quebrar a economia e seus secretários pediram demissão em massa, o dólar foi a quase R$ 6 e a bolsa despencou. As empresas perderam quase R$ 284 bilhões na B3. Guedes já não tem apoio de ninguém. Nem dos banqueiros, da avenida Faria Lima, dos sindicatos dos trabalhadores, muito menos da sociedade organizada, dos partidos políticos, sobretudo dos aliados.

A tentativa de demiti-lo, aliás, veio dos ministros políticos do governo (com Ciro Nogueira, da Casa Civil, à frente). Lira também não o quer vê-lo nem pintado de ouro na Câmara, assim como fazia o ex-presidente Rodrigo Maia (por que será?). Todos queria, e querem,um outro ministro, de preferência Mansueto Almeida. Mas, Guedes, ficou. Por que Bolsonaro o segurou? O senador Flávio, o 01, foi à coletiva constrangedora em que o presidente deu força ao ministro da Economia na última sexta-feira e bancou a sua manutenção, sentando-se na primeira fila de puxa-sacos. A família Bolsonaro está com Guedes e não abre.

Mas, sejamos claros: hoje, com Guedes, só estão eles, do clã Bolsonaro. A maioria da população já apoia outros projetos de desenvolvimento, com os de seus adversários em 2022, sobretudo os da terceira via, como Doria, Moro, Mandetta ou Pacheco. Ou seja, menos o radical Lula, que já disse que vai acabar com o teto de gastos, com as privatizações e com as reformas. Se o povo sofre hoje com Bolsonaro, o que mais anima é que ele também será uma das vítimas de Guedes no ano que vem e não se reelegerá, pelo bem do Brasil.