Foram sete horas de tensão. O ministro da Economia, Paulo Guedes, teve a exata medida das dificuldades que enfrentará para aprovar a reforma da Previdência. E de como o governo Bolsonaro está despreparado para as artimanhas do jogo político. Era óbvio que a oposição se articularia para bombardear o ministro na sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). E que tudo faria para desestabilizá-lo. Como o governo, sem uma base consolidada, amparado no PSL, um partido que desunido insiste em se perder em disputas individuais, não se mobilizou para protegê-lo, Guedes teve de ter nervos de aço. O que poderia ter sido um civilizado debate em torno de como se fazer uma reforma cuja necessidade é inquestionável, descambou para uma discussão típica de grêmio estudantil, com uma oposição deixando clara sua opção pelo “quanto pior, melhor”.

“O senhor é ‘tigrão’ quando é com os aposentados, mas é ‘tchutchuca’ quando mexe com a turma privilegiada”
Zeca Dirceu (PT-PR), deputado federal (Crédito:Gilmar Felix)

Sozinho na trincheira

De um lado, um solitário ministro da Economia. Do outro, a organizada tropa de choque formada por PT, Psol e PSB para bombardeá-lo. Ocupando as principais cadeiras da CCJ, permitiu-se à oposição dominar o debate. Ninguém da base do governo pensou em sugerir que se intercalassem as manifestações entre governistas e oposicionistas. Quem deveria ser companheiro de Guedes na trincheira, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, acompanhou o ministro até que ele tomasse lugar na mesa, mas não ficou no debate até o final da batalha. Mesmo combatendo sozinho, Guedes demonstrou coragem. E não teve como não reagir às provocações feitas pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, enrolado na Lava Jato. Zeca Dirceu usou termos de funk para dizer que Guedes era um “tigrão” na hora de atacar os aposentados mais pobres e uma “tchutchuca” ao lidar com ricos e banqueiros. Guedes respondeu no mesmo tom: “Tchutchuca é a mãe! É a avó!”.

Paulo Guedes é um ministro técnico, não político. Por isso, virou alvo dos desqualificados petistas. Se o governo tivesse se organizado e monitorado as intenções de seus adversários, teria detectado a estratégia de Zeca Dirceu. Oito horas antes, ele postou na sua rede social: “Paulo Guedes tem fala mansa para banqueiros, não para população”. Estava claro por onde caminharia na audiência na CCJ.

Quando teve oportunidade de falar sobre o assunto que domina, o ministro saiu-se bem. Num gesto de respeito ao parlamento, admitiu fazer reparos no texto do governo para a reforma previdenciária. Na avaliação de alguns, o episódio teve a vantagem de ao final consolidar mais quem é favorável à reforma e deixar claro que não haverá diálogo com a oposição. Mas não se poderá mais deixar que ela domine o cenário pela inação do governo e seus aliados. Foi um divisor da águas na discussão pela reforma.

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