A improvisada Reforma Tributária enviada por Paulo Guedes ao Congresso virou uma unanimidade. Desagradou a classe média, afastou investidores e irritou empresários. Preparada à sorrelfa pela equipe da Receita, tem um caráter arrecadatório e complica ainda mais o sistema tributário nacional, que já é um dos piores do mundo. Seus poucos méritos, como começar a taxar dividendos, não aliviam o estrago que já provocou na expectativa dos agentes econômicos. Eles, que já desconfiavam da retomada no pós-pandemia e calculavam o risco de um governo que perde diariamente a sustentação política, agora têm ainda mais motivos para adiar investimentos.

Guedes nunca teve uma visão modernizante. Sua obsessão sempre foi recriar a CPMF, que só não avançou por pressão da sociedade. Agora, conseguiu dinamitar um dos pilares que ainda sustentam o presidente: o apoio dos grandes empresários e dos bancos. Eles serão diretamente afetados. Apesar de o ministro da Economia jurar que a carga tributária não deveria subir, a própria Receita revisou seus cálculos iniciais e disse que o aumento da mordida será de R$ 6,15 bilhões. Além disso, a divulgação do pacote mostrou improvisação e falta de profissionalismo, o que já é a marca desse governo. Não houve nenhuma negociação, nem com as próprias secretarias do Ministério, que não puderam avaliar o projeto. Uma mudança tributária exige um delicado rearranjo federativo e mexe com interesses incrustados há décadas no Estado. Qualquer mudança deveria ser feita com cautela e muito debate para convencer a sociedade dos seus benefícios, visando a simplificação do sistema e o aumento de produtividade da economia. É o contrário do que Guedes praticou.

Apenas o Centrão ficou contente. Com esse mostrengo no Congresso e o ministro desesperado para criar uma agenda positiva na economia, o grupo fisiológico identificou mais uma oportunidade para achacar o presidente e obter ganhos para suas áreas de interesse, muitas vezes não republicanas. É o mesmo roteiro da privatização da Eletrobrás, que foi sancionada ontem pelo presidente e vai permitir muitas benesses paroquiais com um custo astronômico a ser pago pelo consumidor. Dessa vez, entretanto, a conta também será paga por Bolsonaro. Guedes queimou as pontes com o capital que ainda enxergava em Bolsonaro um intrumento confiável de segurança para os negócios. Até os empresários estão percebendo na prática que o presidente e seu ministro não têm nenhum compromisso com o País e seu futuro. Apenas representam um projeto de poder autoritário, sem nenhum refinamento, que visa a própria perpetuação vendendo fantasias.