Não comungo da máxima “bandido bom é bandido morto”. Bandido bom, a meu ver, não existe. E seu lugar, antes que o diabo o carregue, é sendo investigado, processado, condenado e preso conforme a lei. Agora, entre um criminoso morto e um policial morto, ficarei sempre com a primeira alternativa. Simples assim.

Bem, uma vez devidamente preambulizado, já que em tempos de lacração extremista todo cuidado é pouco, sinto-me à vontade para comentar a operação policial – que muitos já adjetivam chacina – ocorrida no Guarujá, em São Paulo, a partir da morte do policial Tobias Aguiar, da Rota, na última quinta-feira (27).

O número de mortos (oficialmente) já chega a dez. Em apuração, mais nove vítimas fatais. Uma coisa é certa: não é normal, não é corriqueira uma operação policial terminar com tanta gente morta. Atenção: aqui não vai nenhum pré-julgamento ou juízo de valor. Enquanto não houver a devida apuração dos fatos, é leviano apontar culpa e culpados.

O governador Tarcísio de Freitas, outrora combatente das câmeras nos uniformes dos policiais (não sei se mudou de ideia), tem de ficar muito atento a um fato: as mortes por PMs em serviço aumentaram 26% de um ano para o outro. É muita coisa! A polícia de São Paulo é uma das melhores, senão a melhor, do País. E uma das menos letais.

A lógica do extermínio puro e simples, que vigorou por muito tempo décadas atrás, não pode voltar. Polícia não é tribunal, e ainda se fosse, não há pena de morte no Brasil. E ainda que eu compreenda o “espírito de corpo” dos militares – e minha indignação tenda a relativizar possíveis ímpetos de vingança -, repito, o extermínio não pode voltar.

Justiça não se faz com justiçamento. Estado policialesco é a porta de entrada para o inferno, leia-se o fim da democracia. E lembrem-se os mais afoitos: na ausência do Estado Democrático de Direito, absolutamente ninguém está seguro. Hoje podem ser traficantes de drogas as vítimas, mas amanhã, nada garante que não será qualquer um de nós.

Neste sentido, preocupa ainda mais o aumento da letalidade da Polícia Civil de SP, hoje 60% maior do que no mesmo período de 2022. Violência não se combate com violência, ao contrário, mas com inteligência, prevenção, ostensividade e atuação policial efetiva e segura. A tecnologia está aí, farta e acessível. Basta querer usar. Até porque, dinheiro é o que não falta para o estado mais rico da Federação.