O Guarani celebra nesta quinta-feira, dia 25 de janeiro, os 30 anos do título da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Em 1994, o time de Campinas venceu o São Paulo nos pênaltis. O clube tinha como presidente Beto Zini e Henrique Smanio Neto, hoje dentista, cuidava de toda a estrutura das categorias de base do time campineiro, um celeiro de craques, tendo o campeão mundial Luizão como o destaque daquela equipe.

“Esse elenco do Guarani foi fruto de um trabalho que vinha acontecendo há alguns anos. Esse time campeão da Copa SP, foi campeão infantil, decidiu um título frente ao São Paulo no juvenil. Curiosamente, quem fez os gols do título do São Paulo foi o Rubens, o mesmo que marcou o gol de empate para o Guarani na Copinha em cobrança de falta. Eu encontrei ele no Morumbi, me disse que estava insatisfeito e consegui trazê-lo para o Guarani. É um time que tem uma história na base. Tinha um trabalho contínuo, você fazia uma projeção para colocar os jogadores no profissional. Esse título trouxe um alento, pois muitos jogadores foram para o time de cima e fizeram parte do elenco de 98 no profissional”, disse Henrique Smanio.

“Foi um título importante, que marcou a vida da gente. Enfrentamos uma equipe fantástica do São Paulo e conseguimos conquistar o título dentro do Pacaembu. Eu já era profissional, mas toda conquista é importante, ainda mais como essa. Entramos para a história do Guarani. Somos os primeiros e os únicos que venceram pelo clube. É uma competição importantíssima para os jovens, é um celeiro de craques. Antigamente, o Guarani tinha um poder aquisitivo bom e uma base excepcional, ganhamos tudo. Infelizmente, o clube não consegue segurar os grandes jogadores, mas eu vejo o Guarani crescendo nos próximos anos”, disse o pentacampeão Luizão, em contato com a reportagem.

SÃO PAULO TINHA CAIO RIBEIRO, ROGÉRIO CENI E MURICY RAMALHO

A Copa São Paulo de Futebol Júnior de 94 contava com 32 equipes, tendo o Guarani terminado a primeira fase na segunda colocação do Grupo B, com os mesmos quatro pontos do Flamengo, para quem teve seu único revés, por 1 a 0. Bateu o Nagoya Grampus, do Japão, por 3 a 0 e o Corinthians, por 2 a 0. A segunda fase também era por grupos. O Guarani caiu na chave J, terminando também em segundo, atrás do Londrina, que o venceu por 2 a 1. O Bugre derrotou Palmeiras (2 a 1) e Sport (4 a 0).

No mata-mata, o Guarani passou por três decisões por pênaltis para conseguir ser campeão, graças à estrela do goleiro Pitarelli. Após um empate sem gols, venceu o Juventude por 3 a 2, nas penalidades, e avançou à semifinal, quando encarou o Londrina e ficou no 1 a 1. Da marca da cal, venceu por 4 a 1.

Na decisão, contra o São Paulo, empatou por 1 a 1, com um gol de falta de Rubens, ex-jogador do Tricolor. O duelo teve uma expulsão de cada lado: Catê e Mauricinho. A equipe de Muricy Ramalho perdeu ainda oportunidades claras de gol na “morte súbita”. Nos pênaltis, o time da capital viu Pitarelli defender todas as três cobranças (Jamelli, Nem e Douglas), enquanto que o Guarani converteu todas (Marquinhos, André e Alberto Valentim) para ser campeão. O gol do título foi do agora treinador.

“Esse título está entre o Top 5 das conquistas do Guarani por tudo o que representava a Copa São Paulo na época. Foi sem dúvida um dos mais importantes da história do clube. Nós ganhamos do São Paulo, que vinha de três finais seguidas do torneio com esse mesmo grupo. Tinha Caio Ribeiro, Jamelli, Rogério Ceni. Foi praticamente o expressinho do São Paulo, que o Muricy Ramalho comandou. Foi uma decisão de peso”, contou o ex-dirigente.

Quem também relembrou a conquista foi o capitão André Ceará, um dos homenageados pelo Guarani pelo título de 1994 na quarta-feira, no duelo contra o São Bernardo do Campo, pela segunda rodada do Paulistão.

“Essa conquista é espetacular, histórica e inédita. Foi um título heroico, muito difícil. Enfrentamos o favorito a ganhar, o São Paulo. Fez muita diferença na minha vida. Hoje vamos ser homenageados, até hoje repercute. Foi o título mais importante da minha carreira, mais do que as conquistas no profissional. É até hoje motivo de muito orgulho”, afirmou.

O meia Andreir arrepiou-se ao lembrar da conquista. “Foi o meu maior título, tive outros mais esse foi de expressão nacional. A emoção de um garoto naquela época, assemelha-se a sensação de ganhar na loteria, ou ter um filho. Éramos muito dependentes do futebol, aquilo era tudo para nós”, revelou.

Ao comparar o passado com os tempos atuais, Henrique Smanio desabafou: “Hoje o futebol está diferente. Tínhamos 40 jogadores que moravam no Guarani, com refeição para todos, oferecíamos escola, muitos deles fizeram faculdade. O Guarani era um polo de atração para aqueles jogadores que queriam chegar ao profissional. Polarizava com o São Paulo. Hoje é muito difícil. A Lei Pelé ajudou os jogadores em um ponto, mas prejudicou os clubes formadores”, concluiu.

Relembre quem foram os campeões com o Guarani em 1994:

Goleiro Pitarelli – Exímio pegador de pênaltis, ficou de 94 a 99 no time principal do Guarani, com um rápido empréstimo ao Mogi Mirim no meio deste período. Foram quase 100 jogos com a camisa bugrina. Passou ainda por Gama, Santos, Rio Preto, Francana, até se aposentar no Santacruzense. Hoje tem uma franquia de pizza. Tem 48 anos.

Lateral-direito Alberto Valentim – Após aparecer no futebol pelo Guarani, passou por Athletico-PR, São Paulo, Cruzeiro e Flamengo, até fazer grande parte da sua carreira na Udinese, na Itália. Largou as chuteiras para virar treinador e já comandou clubes como Palmeiras, Botafogo-RJ, Vasco, Avaí, Cuiabá, Athletico-PR, CSA, e Atlético-GO. Está sem equipe em 2024. Tem 48 anos.

Zagueiro Carlinhos – Com 49 anos, Carlinhos mora nos Estados Unidos. Ele chegou a estudar engenharia ao mesmo tempo que dividia as atenções com o futebol. Além do Guarani, jogou por Juventude, Juventus-SP, Figueirense, Bahia, onde foi campeão da Copa do Nordeste, Santa Cruz, e Red Bull Brasil, tendo conquistado a Série A3 do Campeonato Paulista em 2010. Chegou também a ser auxiliar técnico no Guarani.

Zagueiro Hélton – Não teve muita projeção após conquistar a Copinha com o Guarani. Era reserva daquele time, mas foi titular na final por causa que Ronaldo Guiaro estava suspenso. Antes do time de Campinas, jogou no Comercial.

Lateral-esquerdo Marquinhos – Tem 49 anos e tem uma escolinha de futebol. Jogou também por Paulista de Jundiaí, Palmeiras, Noroeste e Botafogo-SP.

Volante Da Silva – Jogou por muitos anos no time principal do Guarani. Hoje, vive em Santa Fé do Sul, onde tem um bar.

Volante André Ceará – André Luis, ou André Ceará, foi capitão da equipe campeã de 94. Um ano antes, já havia passado pelo profissional do clube. Jogou também por Rio Branco, Coritiba, Vila Nova, Inter de Limeira, Joinville, Figueirense e Caxias. Foi campeão mundial sub-20, em 1993, com a seleção brasileira e sul-americano, em 1992. Tem 49 anos e é responsável por uma das unidades do projeto bugrinho em Ouro Verde.

Meia André Goiano – Após abandonar as chuteiras, chegou a ser agente Fifa, tendo abandonado a profissional para exercer o cargo de coordenador de futebol das categorias de base do Vila Nova. Hoje tem uma escolinha em Goiás.

Meia Andreir – Tem 49 anos e é pastor. No futebol, passou por Portuguesa Santista, Paulista de Jundiaí, Juventus-SP, Nacional-SP, Ceará, América de Natal, Botafogo de Ribeirão, Novorizontino, Rio Preto, Ferroviária, dentre outros.

Atacante Mauricinho – Deixou o Guarani para jogar no Flamengo, fazendo parte do grupo que tinha no ataque nomes como Romário, Edmundo e Sávio. Foi campeão da Série B pelo Juventude, na “Era Parmalat”, além de ter sido campeão sul-americano com a seleção brasileira. Aposentou-se aos 29 anos por causa de uma lesão no joelho. Tem 49 anos e vive em Lins.

Atacante Luizão – Tem 48 anos e inúmeros títulos da carreira, o mais expressivo: o pentacampeonato mundial com a seleção brasileira. Foi multicampeão por Corinthians, Vasco, São Paulo e levantou títulos também por Palmeiras, Flamengo e Paraná.

Técnico Pupo Gimenez – Responsável por levar o Guarani até o título da Copinha, Pupo Gimenez foi campeão paulista com o São Paulo em 89. Passou ainda por Marília, Corinthians e Independente de Limeira, na maioria como treinador das categorias de base. Faleceu em 2016, aos 84 anos.

CONFIRA A FICHA TÉCNICA DAQUELA PARTIDA:

SÃO PAULO 1 (0) X (3) 1 GUARANI

SÃO PAULO – Rogério; Pavão, Nem, Sérgio Baresi e Marcelo Adriano; Mona, Pereira e Jamelli, Catê, Guilherme (Caio) e Toninho (Douglas). Técnico: Muricy Ramalho.

GUARANI – Pitarelli; Alberto, Carlinhos, Hélton (Rubens) e Marquinhos; Da Silva, André Luís, André Goiano (Júlio César) e Andreir; Mauricinho e Luizão (Luís Carlos). Técnico: Pupo Gimenez.

GOLS – Jamelli (pênalti), aos 7, e Rubens, aos 40 minutos do segundo tempo.

CARTÕES VERMELHOS – Mauricinho (Guarani) e Catê (São Paulo).

ÁRBITRO – Ulysses Tavares da Silva Filho.

LOCAL – Estádio Pacaembu, em São Paulo (SP).