O governo britânico reconheceu nesta segunda-feira (28) ter recebido um pedido do líder opositor venezuelano Juan Guaidó para que o Banco da Inglaterra não devolva ao regime de Nicolás Maduro o oro e outros bens que Caracas tem depositados na instituição.

O deputado conservador Crispin Blunt perguntou no Parlamento ao secretário de Estado para Europa e Américas, Alan Duncan, se ele sabia que “a primeira carta enviada a um chefe de governo estrangeiro pelo presidente interino Guaidó foi à primeira-ministra (Theresa May, ndr) em 26 de janeiro sobre o ouro depositado em nome do Banco Central da Venezuela”.

Duncan respondeu: “conheço a existência dessa carta e, para os legisladores que ainda não saibam, confirmo que o Banco da Inglaterra possuiu uma quantidade significativa de ouro venezuelano em virtude de um contrato”.

Ele não informou, contudo, o valor do depósito.

Outro legislador conservador, Andrew Lewer, afirmou pouco antes à AFP ter enviado uma carta ao ministério de Economia lamentando que “o novo presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, se viu obrigado a escrever à primeira-ministra implorando-a que impeça a transferência de 1,2 bilhão de dólares depositados no Banco da Inglaterra ao regime de Maduro”.

Duncan ressaltou que não corresponde ao executivo tomar esta decisão, mas o banco central britânico que se rege de forma independente. Ele deu a entender que a entidade acolheria o pedido do autoproclamado “presidente interino da Venezuela”.

“Sem dúvida (…) levará em conta que muitos países do mundo estão questionando a legitimidade de Nicolás Maduro e reconhecendo a de Juan Guaidó”, afirmou.

– “Pertence ao povo” –

Antes, o deputado trabalhista Graham Jones também pediu ao governo britânico que impeça a repatriação de 14 toneladas de ouro venezuelano, avaliado em 550 milhões de dólares, pertencentes às reservas internacionais da Venezuela.

“As nossas preocupações são os direitos humanos, a desesperada situação humanitária, a crise dos refugiados e o destino final do ouro, que pertence ao povo venezuelano”, disse Jones à AFP.

Questionado sobre um eventual pedido do Estado venezuelano de recuperar as reservas internacionais que tem depositadas em Londres, o Banco da Inglaterra respondeu que “não faz comentários sobre temas” referentes à relação com seus clientes.

Contudo, na opinião de Lewer, “apesar de o Banco da Inglaterra ser operacionalmente independente, agora é uma questão de Estado, não um tema de confidencialidade com os clientes”.

Apesar de “todas as informações assinalarem que o banco não liberou o capital”, pediu em sua carta a Hammond que o presidente da entidade “faça um anúncio claro de que o Banco se negará a entregar esses fundos”.