O líder da oposição venezuelana Juan Guaidó disse nesta terça-feira (13) que uma antecipação das eleições parlamentares, pedido pelo governismo, será um desastre para o governo do presidente Nicolás Maduro.

Guaidó, presidente do Parlamento, o único poder controlado pela oposição, rejeitou assim a intenção da Assembleia Constituinte oficialista de antecipar as eleições do Legislativo, cujo período termina em dezembro de 2020.

“O que aconteceria se o regime hoje ousar, e puder fazê-lo, dar lugar a uma convocação irregular e antecipada de eleições sem quaisquer condições? Eles se afogarão em contradições, em isolamento, vão afogar em um desastre”, declarou Guaidó aos jornalistas antes de uma sessão da câmera.

“Aqui estamos firmes e de pé, exercendo nossas funções”, acrescentou.

Guaidó se autoproclamou presidente interino da Venezuela em 23 de janeiro, e é reconhecido no cargo por cinquenta países liderados pelos Estados Unidos, depois de não aceitar a reeleição de Maduro em 2018.

A possibilidade de antecipar as eleições legislativas é parte de um “contra-ataque” após as últimas sanções dos Estados Unidos, que incluem um bloqueio dos ativos da Venezuela naquele país e ações contra empresas que negociam com o governo, disse na segunda-feira o presidente da Constituinte, Diosdado Cabello.

– “Esforços ilegítimos” –

A Constituinte também levantou a imunidade de quatro deputados da oposição acusados de traição, entre outros crimes, para responder nos tribunais comuns por seu apoio a uma insurreição militar fracassada liderada por Guaidó em 30 de abril.

No total, 25 parlamentares foram privados de sua jurisdição, a maioria deles por causa dessa tentativa de golpe.

O conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton, descreveu nesta terça-feira como um “ataque direto à democracia” esses “esforços ilegítimos do regime de Maduro para retirar a imunidade dos representantes democraticamente eleitos do povo venezuelano”.

“Pedimos à comunidade internacional para responsabilizar o tirano Maduro”, escreveu Bolton no Twitter.

“O único ataque à democracia venezuelana é aquele executado pelo regime supremacista de Donald Trump através do bloqueio econômico e desumano para tentar tomar nosso petróleo”, publicou na mesma rede social o chanceler venezuelano Jorge Arreaza.

Maja Kocijancic, porta-voz da líder diplomacia europeia, Federica Mogherini, definiu estas ações como outro “ataque direto ao único poder democraticamente eleito na Venezuela”.

“A solução para a crise na Venezuela só pode vir de um processo negociado que leva a eleições presidenciais livres e confiáveis”, acrescentou em um comunicado, conclamando os partidos a retomar as negociações mediadas pela Noruega, que o presidente socialista interrompeu precisamente por causa das últimas sanções de Washington.

Quem também criticou a proposta do governo de Maduro foi o Grupo de Lima, ao considerá-la inconstitucional além de representar uma “afronta à democracia” e à Carta Democrática Interamericana.

Em um comunicado, a instituição apresentou sua rejeição “à ameaça da ilegítima Assembleia Nacional Constituinte do regime (Nicolás) Maduro de convocar inconstitucionalmente eleições antecipadas para a Assembleia Nacional da Venezuela, a única autoridade legítima e democraticamente eleito”.

Segundo o grupo, que apoia e reconhece Guaidó como presidente interino, “qualquer ameaça feita pela Assembleia Nacional Constituinte e / ou pelo regime ilegítimo de Maduro contra a Assembleia Nacional da Venezuela representa um desafio aberto à democracia e à democracia Carta Democrática Interamericana”, além de destacar que esta medida é “um novo exemplo da clara violação de todas as normas democráticas” por parte de Maduro.

O Grupo de Lima é composto por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia e foi criado há dois anos para adotar uma postura comum em relação à crise venezuelana.