Vários grupos humanos introduziram a agricultura há quase 10.000 anos, revela uma pesquisa, que põe em dúvida a teoria de que os cultivos e o gado surgiram nessa época em uma única comunidade no Oriente Médio.
“A maioria dos especialistas pensava que os primeiros agricultores apareceram em uma só população geneticamente homogênea, mas com esse estudo descobrimos profundas diferenças genéticas em grupos que coexistiram na mesma região, com origens ancestrais muito distintas”, explica Garrett Hellenthal, da University College de Londres.
Ele é um dos autores do trabalho publicado nesta quinta-feira na revista americana Science.
Os cientistas fizeram a sequência de DNA extraído de fragmentos ósseos que datam de 9.000 a 10.000 anos, descobertos em um cova de Islamabad nas montanhas Zagros, a 600 km de Teerã.
Trata-se de um homem de cabelos negros, olhos pardos e pele escura. Seu regime alimentar era composto por cereais, o que indica que ele dominava os cultivos.
Essa análise genética mostra que ele pertencia a um grupo de população geneticamente diferente a seus primos mais a oeste, em Anatólia, na atual Turquia.
Utilizando igualmente outros três genomas antigos provenientes das montanhas Zagros, os investigadores puderam reconstituir o retrato de um grupo de população cujos descendentes modernos mais próximos estão no Afeganistão, Paquistão e Índia, sugerindo que eles introduziram a agricultura no sul da Ásia.
Essa tribo das montanhas Zagros tinha genes muito diferentes aos dos europeus modernos e de seus ancestrais agricultores do oeste de Anatólia ou da Grécia, destacam os cientistas.
Segundo os investigadores, os dois grupos possivelmente se separaram 50.000 anos depois que os primeiros humanos modernos emigraram da África.
“Sabemos que as técnicas agrícolas, incluindo o cultivo de diferentes cereais e outras plantas e a criação de animais na região chamada de Crescente Fértil não teve um centro em particular”, destaca Mark Thomas, professor de genética da University College de Londres, outro dos autores.
“Mas o fato de constatar que esta região estava povoada por populações de agricultores geneticamente tão diferentes foi uma surpresa”.
A transição de um modo de vida baseado na caça e na coleta para a agricultura e a vida sedentária foi uma das mudanças mais importantes desde o surgimento dos primeiros humanos na África há aproximadamente 200.000 anos, destacam os cientistas.
Isso transformou as sociedades humanas e conduziu a maiores densidades de população, ao aparecimento de novas enfermidades e desigualdades sociais, abrindo caminho para o auge das civilizações antigas.
Os animais e as plantas foram domesticados pela primeira vez em uma região do norte de Israel, Líbano até Síria e no leste da Turquia, antes de se estender ao norte do Iraque, ao nordeste do Irã e Mesopotâmia.