O Instituto Força Brasil, responsável por levar vendedores de vacina da Davati ao Ministério da Saúde, projetou a criação de um aplicativo para oferecer o chamado “tratamento precoce” para a Covid-19, que consiste na utilização de uma série de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a doença. As informações são de uma reportagem do UOL.

Quem revelou a informação foi o próprio vice-presidente da instituição e apoiador de movimentos bolsonaristas, Otávio Fakhoury, em fevereiro deste ano, em uma entrevista a um canal no YouTube.

De acordo com o empresário, o Força Brasil estava em contato com um grupo de médicos para desenvolver uma ferramenta de telemedicina, que permitiria atender pacientes interessados a distância.

A ideia seria de “auxiliar o governo”, uma vez que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estaria sendo constrangido a não promover os medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid, de acordo com o empresário.

“Se o governo começar a oferecer kit precoce, a imprensa vai cair em cima”, disse Fakhoury em entrevista à jornalista Bruna Torlay, em 17 de fevereiro.

Ao UOL, o instituto disse que a ideia não foi adiante. “Estava em andamento. Mas fazer um aplicativo de teleconfulsta nacional não é algo fácil. Esbarramos em uns obstáculos e não fomos adiante”, disse o advogado Igor Vasconcelos, um dos dirigentes da entidade.

A entrevista de Fakhoury ao canal do YouTube ocorreu menos de um mês antes do Instituto Força Brasil promover uma reunião da Davati Medical Supply, que havia ofertado 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, com o Ministério da Saúde, em 12 de março. O encontro foi marcado por Bruno, um militar da reserva que preside o instituto.

Ao UOL, Fakhoury disse que o Força Brasil buscava oferecer pela iniciativa privada um serviço que o governo vinha sendo impedido de promover. “O presidente falava em tratamento precoce, mas logo era desautorizado. E ninguém tinha uma alternativa para dar. O aplicativo compensaria, na minha opinião, uma lacuna do governo, para dar essa possibilidade”, explicou.

Ainda segundo o UOL, em 12 de março, o Instituto Força Brasil fez a ponte entre os representantes comerciais da Davati, Cristiano Carvalho e Luiz Paulo Dominghetti, o reverendo Amilton de Paula, que atuava em nome do governo, e o coronel Élcio France, que era secretário-executivo do Ministério da Saúde à época.