A Cor do Som, um dos grupos instrumentais mais inventivos na linha histórica da música brasileira, está em turnê com sua formação original. O show em São Paulo, que seria nesta quarta, 22, no Teatro Bradesco, foi transferido para o próximo dia 10 de agosto. A reportagem apurou que a mudança foi em decorrência da baixa venda de ingressos.

A história do grupo não merecia tanto descaso. A Cor do Som, nome de uma música de Moraes Moreira e Galvão, foi formado por músicos virtuosos que acompanhavam os Novos Baianos. A partir de 1977, suas influências aprendidas ao lado de Moraes e Pepeu Gomes foram potencializadas em uma linguagem instrumental de grande força, misturando choro, frevo, rock and roll e música erudita. O resultado lembrava uma banda brasileira de rock progressivo dos anos 1970.

O fato de o grupo se reunir em sua formação original é um espetáculo em si. Foi justamente depois da saída do guitarrista e bandolinista Armandinho, em 1981, que o grupo entrou no processo doloroso de dissolução. Sobem ao palco agora, além do próprio Armandinho, o baixista Dadi Carvalho; seu irmão tecladista, Mu Carvalho; o baterista peso pesado Gustavo Schroeter; e o percussionista Ary Dias.

As duas fases mais evidentes são a instrumental, sustentada até o terceiro álbum, Frutificar, de 1979, e a vocal, rompendo com a essência de uma linguagem experimental e ousada para se tornar mais pop.

Os músicos vinham ouvindo naqueles anos 1970 sobretudo Jimi Hendrix, como lembra o baixista Dadi. “Isso misturado a Jacob do Bandolim, Valdir Azevedo, frevo… Eu não era um fã de progressivo, como Yes ou Emerson, Lake and Palmer, mas nosso som acabava se parecendo com esse tipo de rock.”

Os discos de pegada instrumental eram elogiados, arrojados, inventivos e um fracasso de vendas. Arpoador, o primeiro, de 1977, trazia o choro Odeon, de Ernesto Nazareth, e uma versão de Tigresa, de Caetano Veloso.

O grupo só foi contratado por uma gravadora quando caiu nas mãos do então diretor da Warner, André Midani, que já conhecia os rapazes dos Novos Baianos. Antes, a Polygram havia dito não ao pedido de lançamento por acreditar que um projeto de música instrumental não iria longe – algo que se comprovaria a mais pura verdade.

André Midani segurou as pontas da proposta instrumental por dois discos. Antes de fazer o terceiro, chamou os músicos e foi bem objetivo: “Se vocês não começarem a cantar, não conseguirei mais lançar discos. Estamos vendendo muito pouco”.

O grupo entendeu o recado e saiu em busca de canções com colaboradores mais habilitados, já que suas preocupações nunca passaram pela poesia. Foram primeiro a Caetano Veloso, que tinha nas mãos algo que nunca havia gravado, e ganharam de presente o reggae Beleza Pura (“Não me amarra dinheiro não / beleza pura”).

De Gilberto Gil e Dominguinhos, receberam outro presente, Abri a Porta. Um baião mais estilizado no pop, nos teclados, sem o pé na sandália proposto pela sanfona de Domingos. Dadi conta que a reação de Dominguinhos não foi das melhores. “Mas eles mudaram tudo!”, disse o sanfoneiro. “Ele ficou um pouco sentido com o que fizemos.”

Mas as vendas compensaram. De dois mil discos vendidos de seus primeiros álbuns, o grupo passou ao patamar de 80 mil cópias comercializadas. Uma marca longe dos 700 mil conquistados por Roberto Carlos, mas à altura de Gilberto Gil e Caetano Veloso.

A Cor do Som se provou viável economicamente e fez seus músicos experimentarem o sabor de popstar, até que a roda passou a girar rápido demais. Armandinho, a essência do grupo, teve de decidir entre o projeto de seu Trio Elétrico e a banda. Escolheu o Trio e deixou os amigos. Foi substituído por Victor Biglione, mas sua ausência seria sentida até a dissolução da banda. Vê-los juntos, por tudo isso, é tão importante.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.