Um grupo de homens fortemente armados invadiu na madrugada deste sábado, 27, uma festa no bairro Cajazeiras, na periferia de Fortaleza, e atirou contra os participantes. Até as 12h30, a Polícia Civil falava em 14 mortos – a maioria mulheres – e seis feridos em estado grave, entre eles três adolescentes de 16 anos e um de 12. A chacina, considerada a maior da história do Ceará, teria ligação com a guerra de facções criminosas.

A festa acontecia na casa noturna Forró do Gago, localizada na Rua Madre Tereza de Calcutá. De acordo com testemunhas que pediram para não se identificar, por volta de 00h30 de sábado, homens que estavam em três carros pararam em frente ao local, desceram e dispararam a esmo contra as pessoas.

Segundo fontes não oficiais, o evento era promovido por integrantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV), que nasceu no Rio de Janeiro, e hoje tem forte presença nos presídios nordestinos e domina o tráfico de drogas no Estado do Ceará.

As execuções, de acordo com informações não oficiais, estão sendo atribuídas à facção rival Guardiões do Estado (GDE). Em entrevista coletiva realizada na tarde deste sábado, o secretário de Segurança Pública do Ceará, André Costa, não confirmou que haja ligação da chacina com o crime organizado. Pessoas sem ligação com as facções estariam entre as vítimas. Elas estariam apenas se divertindo na festa, que é popular na comunidade.

Parte das vítimas foi atingida na rua, como Marisa Mara, de 37 anos, que morreu no local. Sandra Silva, mãe da vendedora ambulante, contou que ela morava perto da festa. Estava voltando para casa e parou para falar com conhecidos quando os atiradores chegaram. A família vai doar as córneas. Outro ambulante que estava trabalhando na festa, vendendo comida, também foi morto. Também morreram o motorista de Uber Natanael da Silva, de 25 anos, e seu passageiro, não identificado.

Das 14 vítimas fatais, 12 morreram no local. As outras duas morreram na ambulância, a caminho do hospital, e após dar entrada na emergência do Hospital Frotinha de Messejana.

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Os seis feridos foram encaminhados ao Instituto Dr. José Frota, no centro de Fortaleza, onde estão internados em estado grave. São eles um homem de 23 anos, três adolescentes de 16 anos, sendo duas meninas, e um outro de 12 anos. Não foram fornecidas informações sobre o sexto ferido.

Pelas redes sociais, vídeos e fotos das vítimas ensanguentadas começaram a circular ainda durante a madrugada. Grande parte dos registros mostrava grupos de várias mulheres alvejadas na cabeça.

Violência no Nordeste

Dados do primeiro semestre de 2017 apontavam o Ceará como o segundo Estado brasileiro mais violento, atrás apenas de Pernambuco. E a violência está em escalada. Do primeiro semestre de 2016 para o mesmo período de 2017, o número de mortos aumentou de 1.743 para 2.299, uma alta de 31,9%.

A disputa pelo controle do tráfico de drogas é considerada o principal fator para o crescimento da violência.

Facção local

A facção criminosa Guardiões do Estado (GDE) nasceu em Fortaleza para disputar o controle dos presídios e o comando do tráfico de drogas no Estado com o Comando Vermelho (CV).

No ano passado, o grupo teria se aproximado do Primeiro Comando da Capital (PCC), na tentativa de enfraquecer seu principal rival.

Seguindo o modelo da facção Família do Norte (FDN), forte no Estado vizinho Rio Grande do Norte, a GDE é uma organização criminosa menor, mas que recentemente vem ganhando força, arregimentando principalmente menores infratores e jovens adultos criminosos, moradores de áreas periféricas da capital cearense, na faixa etária dos 15 aos 25 anos.


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