Desta vez, a história se inverteu: foi o Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) o autor do pedido de reintegração de posse na Justiça do prédio ocupado. O edifício, aqui, é o icônico Hotel Cambridge, no centro de São Paulo, invadido há seis anos. Doada ao movimento pela Prefeitura, a construção já tem até um projeto para se tornar residencial. O problema é que um grupo de 14 moradores da ocupação, que não será beneficiado com as futuras moradias, se recusa a sair.

Após quase nove anos fechado, o antigo hotel de 15 andares foi desapropriado em 2011. Cinco anos depois, o poder público doou o imóvel ao MSTC.

O movimento foi selecionado pelo programa Minha Casa Minha Vida Entidades e vai receber dinheiro da Caixa Econômica Federal para construir habitações no edifício. Mas, para ter o financiamento, o prédio precisa estar vazio até hoje – data limite fixada pelo governo federal para a contratação do projeto habitacional.

A maior parte das famílias deixou o prédio no último fim de semana, o que havia sido combinado em junho. O principal lar provisório não fica distante: será outra invasão, o antigo prédio do INSS na Avenida 9 de Julho, na mesma via onde também está o Cambridge.

Os 14 remanescentes – que não estão entre as 121 famílias selecionadas para morar nas futuras unidades habitacionais – não querem cumprir o combinado. E, por isso, o MSTC recorreu ao pedido de liminar, “para não correr o risco” de prejudicar os trâmites com o governo federal, justifica a líder do MSTC, Carmen Silva.

Entre os critérios para escolher as 121 famílias – o que deixou outras 30 residentes do Cambridge fora da lista -, um dos mais importantes era a participação nos atos e assembleias do MSTC.

Mas, para um dos líderes da resistência, o aposentado Jorge Laurindo, de 61 anos, o critério de seleção foi “político”. “O movimento se dividiu”, diz ele.

Morador do Cambridge há cinco anos, Laurindo não está entre os escolhidos e duvida que as unidades habitacionais sejam de fato construídas. “E o dinheiro que colocamos?”, questiona. Por mês, as famílias contribuíam com R$ 200 para despesas de manutenção, limpeza e segurança (uma portaria 24 horas era mantida no local).

Os moradores que não foram escolhidos para o residencial não têm destino definido nem atendem aos critérios de concessão do auxílio-aluguel, da Prefeitura.

A auxiliar Lucimara Santos, de 42 anos, diz que não sai do Cambridge por não ter para onde ir. Ela, que também faz parte do grupo de não selecionados, descarta viver no antigo imóvel do INSS. “Não queremos. Dizem que é um prédio de risco.”

Já a técnica de enfermagem Claudete Lindoso, de 41 anos, tem apartamento prometido no residencial, cuja construção foi orçada em R$ 13,5 milhões. “Vivemos juntos esse tempo todo. Só queríamos que todos entrassem em acordo”, afirma ela, que já deixou o prédio.

Projeto

No projeto elaborado para o residencial, devem ser mantidas as características do antigo hotel, inaugurado nos anos 1950. A estrutura, a fachada e algumas partes de alvenaria do prédio serão mantidas. Instalações elétricas e hidráulicas serão trocadas. O prédio terá também novos elevadores – hoje, eles não funcionam.

Os apartamentos vão manter a estrutura original. A churrasqueira, no último andar, também continua. Uma das novidades será um salão de festas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.